Página 184 - Patriarcas e Profetas (2007)

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Capítulo 20 — José no Egito
Este capítulo é baseado em
Gênesis 39-40
.
Enquanto isso, José com seus detentores estava a caminho do
Egito. Jornadeando a caravana para o Sul, em direção das fronteiras
de Canaã, o rapaz podia discernir a distância as colinas entre as quais
se achavam as tendas de seu pai. Chorou amargamente à lembrança
daquele pai amoroso, em sua solidão e aflição. Novamente a cena
em Dotã veio diante de si. Viu seus irmãos irados, e sentiu os olhares
furiosos que lhe dirigiam. As palavras pungentes, insultantes, que
seus aflitos rogos encontraram, estavam a soar-lhe nos ouvidos. Com
o coração a tremer olhou para o futuro. Que mudança na situação
— de um filho ternamente acalentado para o escravo desprezado e
desamparado! Só e sem amigos, qual seria sua sorte na terra estranha
a que ele ia? Por algum tempo, José entregou-se a uma dor e pesar
incontidos.
Mas, na providência de Deus, mesmo esta experiência seria
uma bênção para ele. Aprendeu em poucas horas o que de outra
maneira anos não lhe poderiam ter ensinado. Seu pai, forte e terno
como havia sido seu amor, fizera-lhe mal com sua parcialidade e
indulgência. Esta preferência imprudente havia encolerizado seus
irmãos, e os incitara à ação cruel que o separara de seu lar. Os efeitos
dessa preferência eram também manifestos em seu caráter. Defeitos
haviam sido acariciados, que agora deveriam ser corrigidos. Ele se
estava tornando cheio de si e exigente. Acostumado à ternura dos
cuidados de seu pai, viu que não se achava preparado para competir
com as dificuldades que diante dele estavam, na vida amarga e
desconsiderada de estrangeiro e escravo.
Então seus pensamentos volveram para o Deus de seu pai. Na
meninice fora ensinado a amá-Lo e temê-Lo. Muitas vezes na tenda
do pai, ouvira a história da visão que Jacó tivera quando se retirava
de seu lar, como exilado e fugitivo. Contaram-lhe a respeito das pro-
messas do Senhor a Jacó, e como tinham elas se cumprido — como,
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