Página 177 - O Desejado de Todas as Na

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Prisão e morte de João Batista
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podia Ele permitir que Seu fiel precursor fosse privado da liberdade
e talvez da vida?
Essas perguntas não deixaram de produzir efeito. Dúvidas que,
do contrário, nunca teriam sido suscitadas, foram então sugeridas a
João. Satanás regozijou-se em ouvir as palavras desses discípulos,
e ver como elas quebrantaram o coração do mensageiro do Senhor.
Oh! quantas vezes os que se julgam amigos de um homem bom,
e anseiam mostrar sua fidelidade para com ele, se demonstram os
mais perigosos inimigos! Quantas vezes, em lugar de lhe fortalecer
a fé, suas palavras deprimem e desanimam!
Como os discípulos do Salvador, João Batista não compreendia
a natureza do reino de Cristo. Esperava que Jesus tomasse o trono
de Davi; e, ao passar o tempo, e o Salvador não reclamar nenhuma
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autoridade real, João ficou perplexo e turbado. Declarara ao povo
que, a fim de o caminho ser preparado diante do Senhor, a profecia de
Isaías devia ser cumprida, os montes e os outeiros se deviam abaixar,
endireitar os caminhos tortuosos, e os lugares ásperos ser aplainados.
Esperava que as elevações do orgulho e do poder humanos fossem
derribadas. Apresentara o Messias como Aquele cuja pá estava em
Sua mão, e que limparia inteiramente Sua eira, ajuntaria o trigo no
celeiro, e queimaria a palha com fogo que não se apagaria. Como
o profeta Elias, em cujo espírito e poder ele próprio viera a Israel,
esperava que o Senhor Se revelasse como um Deus que responde
por fogo.
O Batista fora, em sua missão, um destemido reprovador da
iniqüidade, tanto nos lugares elevados como nos humildes. Ousara
enfrentar o rei Herodes com a positiva repreensão do pecado. Não
tivera a vida por preciosa, contanto que cumprisse a missão que lhe
fora designada. E agora, de sua prisão, aguardava que o Leão da
tribo de Judá abatesse o orgulho do opressor, e libertasse o pobre e o
que clamava. Mas Jesus parecia contentar-Se com reunir discípulos
em volta de Si, curar e ensinar o povo. Comia à mesa dos publicanos,
ao passo que dia a dia mais pesado se tornava o jugo romano sobre
Israel, o rei Herodes e a vil amante faziam sua vontade, e o clamor
do pobre e sofredor subia ao Céu.
Ao profeta do deserto tudo isso se afigurava um mistério além
de sua penetração. Havia horas em que os cochichos dos demônios
lhe torturavam o espírito, e a sombra de um terrível temor, dele se