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O Desejado de Todas as Nações
a qual, com duras e veementes vozes, acusavam de ter violado o
sétimo mandamento. Havendo-a empurrado para a presença de Jesus,
disseram-Lhe com hipócrita manifestação de respeito: “Na lei nos
mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu pois que dizes?”
João 8:5
.
Sua fingida reverência ocultava um laço fundamente armado
para Sua ruína. Lançaram mão dessa oportunidade para garantir-Lhe
a condenação, julgando que, fosse qual fosse a decisão que Ele desse,
haviam de achar ocasião de acusá-Lo. Se absolvesse a mulher, seria
acusado de desprezar a lei de Moisés. Se Ele a declarasse digna de
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morte seria denunciado aos romanos como assumindo autoridade
que só a eles pertencia.
Jesus contemplou um momento a cena — a trêmula vítima em
sua vergonha, os mal-encarados dignitários, destituídos da própria
simpatia humana. Seu espírito de imaculada pureza recuou do espe-
táculo. Bem sabia para que fim fora levado esse caso. Lia o coração,
e conhecia o caráter e a história da vida de cada um dos que se acha-
vam em Sua presença. Esses pretensos guardas da justiça haviam,
eles próprios, induzido a vítima ao pecado, a fim de prepararem uma
armadilha para Jesus. Sem dar nenhum indício de lhes haver escu-
tado a pergunta, inclinou-Se e, fixando no chão o olhar, começou a
escrever na terra.
Impacientes ante Sua demora e aparente indiferença, os acusa-
dores aproximaram-se, insistindo em Lhe atrair a atenção sobre o
assunto. Ao seguirem, porém, com a vista, o olhar de Jesus, fixaram-
na na areia aos Seus pés, e transmudou-se-lhes o semblante. Ali,
traçados perante eles, achavam-se os criminosos segredos de sua
própria vida. O povo, olhando, reparou na súbita mudança de ex-
pressão e adiantou-se, para descobrir o que estavam eles olhando
com tal espanto e vergonha.
Com toda a sua professada reverência pela lei, esses rabis, ao
trazerem a acusação contra a mulher, estavam desatendendo às exi-
gências da mesma. Era dever do marido mover ação contra ela, e as
partes culpadas deviam ser igualmente punidas. A ação dos acusado-
res era de todo carecida de autorização. Entretanto, Jesus os rebateu
com as próprias armas deles. A lei especificava que, nas mortes por
apedrejamento, as testemunhas do caso fossem as primeiras a lançar
a pedra. Erguendo-Se, então, e fixando os olhos nos anciãos autores