Página 75 - O Desejado de Todas as Na

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A voz do deserto
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próprio. Os apetites e paixões devem ser mantidos em sujeição às
mais elevadas faculdades do espírito. Esta autodisciplina é essencial
àquela resistência mental e visão espiritual que nos habilitarão para
compreender e praticar as sagradas verdades da Palavra de Deus. É
por esta razão que a temperança tem seu lugar na obra de preparação
para a segunda vinda de Cristo.
Segundo a ordem natural, o filho de Zacarias teria sido educado
para o sacerdócio. A educação das escolas dos rabis, no entanto,
tê-lo-ia incapacitado para sua obra. Deus não o mandou aos mestres
de teologia para aprender a interpretar as Escrituras. Chamou-o ao
deserto, a fim de aprender acerca da natureza, e do Deus da natureza.
Foi numa região isolada que encontrou seu lar, em meio de
despidas colinas, ásperos barrancos e cavernas das rochas. Preferiu,
porém, renunciar às diversões e luxos da vida pela rigorosa disciplina
do deserto. Ali, o ambiente era propício aos hábitos de simplicidade e
abnegação. Não perturbado pela agitação do mundo, poderia estudar
as lições da natureza, da revelação e da Providência. As palavras
do anjo a Zacarias haviam sido muitas vezes repetidas a João por
seus piedosos pais. Desde a infância fora-lhe conservada diante dos
olhos a missão a ele confiada e aceitara o sagrado depósito. Para
ele, a solidão do deserto era um convidativo lugar de escape da
sociedade quase geralmente contaminada de suspeita, incredulidade
e impureza. Desconfiava de suas forças para resistir à tentação, e
fugia do constante contato com o pecado, não viesse a perder o
sentimento de sua inexcedível culpabilidade.
Dedicado a Deus como nazireu desde o nascimento, fez por si
mesmo o voto de uma consagração de toda a vida. Vestia-se como os
antigos profetas, duma túnica de pêlo de camelo, presa por um cinto
de couro. Comia “gafanhotos e mel silvestre”, achados no deserto, e
bebia a água pura que vinha das montanhas.
A vida de João não era, entretanto, passada em ociosidade, em
ascética tristeza, em isolamento egoísta. Ia de tempos a tempos
misturar-se com os homens; e era sempre observador interessado do
que se passava no mundo. De seu quieto retiro, vigiava o desdobrar
dos acontecimentos. Com a iluminada visão facultada pelo Espírito
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divino, estudava o caráter dos homens, a fim de saber como lhes
chegar ao coração com a mensagem do Céu. Pesava sobre ele a
responsabilidade de sua missão. Meditando e orando, na solidão,