Página 100 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
Jerônimo protestou contra tal crueldade e injustiça. “Conservas-
tes-me encerrado durante trezentos e quarenta dias, numa prisão
horrível”, disse ele, “em meio de imundície, repugnante mau cheiro
e da maior carência de tudo; trazeis-me depois diante de vós e, dando
ouvidos a meus inimigos mortais, recusais-vos a ouvir-me. ... Se
sois na verdade homens prudentes, e a luz do mundo, tende cuidado
em não pecar contra a justiça. Quanto a mim, sou apenas um fraco
mortal; minha vida não tem senão pouca importância; e, quando vos
exorto a não lavrar uma sentença injusta, falo menos por mim do
que por vós.” — Bonnechose.
Seu pedido foi, finalmente, atendido. Na presença dos juízes,
Jerônimo ajoelhou-se e orou para que o Espírito divino lhe dirigisse
os pensamentos e palavras, de modo que nada falasse contrário à
verdade ou indigno de seu Mestre. Para ele naquele dia se cumpriu a
promessa de Deus aos primeiros discípulos: “Sereis até conduzidos
à presença dos governadores e dos reis por causa de Mim. ... Mas,
quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis
de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que
haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de
vosso Pai é que fala em vós.”
Mateus 10:18-20
.
As palavras de Jerônimo excitaram espanto e admiração, mesmo
a seus inimigos. Durante um ano inteiro, havia ele estado empare-
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dado numa masmorra, impossibilitado de ler ou mesmo ver, com
grande sofrimento físico e ansiedade mental. No entanto, seus ar-
gumentos eram apresentados com tanta clareza e força como se
houvesse tido oportunidade tranqüila para o estudo. Indicou aos ou-
vintes a longa série de homens santos que haviam sido condenados
por juízes injustos. Em quase cada geração houve os que, enquanto
procuravam enobrecer o povo de seu tempo, foram censurados e
rejeitados, mas que em tempos posteriores mostraram ser dignos
de honra. O próprio Cristo foi, por um tribunal injusto, condenado
como malfeitor.
Em sua retratação, Jerônimo consentira na justiça da sentença
que condenara Huss; declarou ele agora o seu arrependimento, e deu
testemunho da inocência e santidade do mártir. “Conheci-o desde
a meninice”, disse ele. “Foi um ótimo homem, justo e santo; foi
condenado apesar de sua inocência. ... Eu, eu também estou pronto
para morrer; não recuarei diante dos tormentos que estão preparados