O poder triunfante da verdade
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para enfrentar os momentosos acontecimentos do dia seguinte, e
necessitava de sossego e repouso. Tão grande, porém, era o desejo
de o ver, que havia ele gozado apenas o descanso de algumas horas
quando ao seu redor se reuniram avidamente nobres, cavalheiros,
sacerdotes e cidadãos. Entre estes se encontravam muitos dos nobres
que tão ousadamente haviam pedido ao imperador uma reforma
contra os abusos eclesiásticos e que, diz Lutero, “se tinham todos
libertado por meu evangelho.” — Vida e Tempos de Lutero, de
Martyn. Inimigos, bem como amigos foram ver o intrépido monge.
Ele, porém, os recebeu com calma inabalável, respondendo a todos
com dignidade e sabedoria. Seu porte era firme e corajoso. O rosto,
pálido e magro, assinalado com traços de trabalhos e enfermidade,
apresentava uma expressão amável e mesmo alegre. A solenidade
e ardor profundo de suas palavras conferiam-lhe um poder a que
mesmo seus inimigos não podiam resistir completamente. Tanto
amigos como adversários estavam cheios de admiração. Alguns
estavam convictos de que uma influência divina o acompanhava;
outros declaravam, como fizeram os fariseus em relação a Cristo:
“Ele tem demônio.”
No dia seguinte, Lutero foi chamado para estar presente à Dieta.
Designou-se um oficial imperial para conduzi-lo até ao salão de
audiência; foi, contudo, com dificuldade que ele atingiu o local.
Todas as ruas estavam cheias de espectadores, ávidos de ver o monge
que ousara resistir à autoridade do papa.
Quando estava para entrar à presença de seus juízes, um velho
general, herói de muitas batalhas, disse-lhe amavelmente: “Pobre
monge, pobre monge, vais agora assumir posição mais nobre do que
eu ou quaisquer outros capitães já assumimos nas mais sanguinolen-
tas de nossas batalhas! Mas, se tua causa é justa, e estás certo disto,
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vai avante em nome de Deus e nada temas. Deus não te abandonará.”
— D’Aubigné.
Finalmente Lutero se achou perante o concílio. O imperador
ocupava o trono. Estava rodeado das mais ilustres personagens do
império. Nunca homem algum comparecera à presença de uma as-
sembléia mais importante do que aquela diante da qual Martinho
Lutero deveria responder por sua fé. “Aquela cena era por si mesma
uma assinalada vitória sobre o papado. O papa condenara o homem,
e agora estava ele em pé, diante de um tribunal que, por esse mesmo