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O Grande Conflito
partindo de Worms, seu coração se encheu de alegria e louvor. “O
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próprio diabo”, disse ele, “guardou a fortaleza do papa, mas Cristo
fez nela uma larga brecha, e Satanás foi constrangido a confessar
que o Senhor é mais poderoso do que ele.” — D’Aubigné.
Depois de sua partida, ainda desejoso de que sua firmeza não
fosse mal-interpretada como sendo rebelião, Lutero escreveu ao
imperador: “Deus, que é o pesquisador dos corações, é minha tes-
temunha”, disse ele, “de que estou pronto para, da maneira mais
ardorosa, obedecer a vossa majestade, na honra e na desonra, na
vida e na morte, e sem exceções, a não ser a Palavra de Deus, pela
qual o homem vive. Em todas as preocupações da presente vida,
minha fidelidade será inabalável, pois perder ou ganhar neste mundo
é de nenhuma conseqüência para a salvação. Mas quando se acham
envolvidos interesses eternos, Deus não quer que o homem se sub-
meta ao homem; pois tal submissão em assuntos espirituais é ver-
dadeiro culto, e este deve ser prestado unicamente ao Criador.” —
D’Aubigné.
Na viagem de volta de Worms, a recepção de Lutero foi mais
lisonjeira mesmo do que na sua ida para ali. Eclesiásticos principes-
cos davam as boas-vindas ao monge excomungado, e governadores
civis honravam ao homem que o imperador denunciara. Insistiu-se
com ele que pregasse e, não obstante a proibição imperial, de novo
subiu ao púlpito. “Nunca me comprometi a acorrentar a Palavra de
Deus”, disse ele, “nem o farei.” —Martyn. Não estivera ainda muito
tempo ausente de Worms, quando os chefes coagiram o imperador a
promulgar um edito contra ele. Nesse decreto Lutero foi denunciado
como o “próprio Satanás sob a forma de homem e sob as vestes de
monge.” — D’Aubigné. Ordenou-se que, logo ao expirar o prazo
de seu salvo-conduto, se adotassem medidas para deter a sua obra.
Proibia-se a todas as pessoas abrigá-lo, dar-lhe comida ou bebida,
ou por palavras ou atos, em público ou em particular, auxiliá-lo ou
apoiá-lo. Deveria ser preso onde quer que o pudesse ser, e entre-
gue às autoridades. Presos deveriam ser também seus adeptos, e
confiscadas suas propriedades. Deveriam destruir-se seus escritos e,
finalmente, todos os que ousassem agir contrariamente àquele de-
creto eram incluídos em sua condenação. O eleitor da Saxônia e os
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príncipes mais amigos de Lutero tinham-se retirado de Worms logo
depois de sua partida, e o decreto do imperador recebeu a sanção