Página 161 - O Grande Conflito

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A luz na Suíça
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Posto que Zwínglio não comparecesse, sua influência foi sen-
tida. Os secretários foram todos escolhidos pelos romanistas, e a
outros foi vedado tomar notas, sob pena de morte. Apesar disto
Zwínglio recebia diariamente um relatório fiel do que se dizia em
Bade. Um estudante que assistia à discussão, fazia cada noite um
relato dos argumentos naquele dia apresentados. Dois outros estu-
dantes faziam a entrega desses papéis, juntamente com as cartas
diárias de Oecolampadius, a Zwínlio, em Zurique. O reformador
respondia, dando conselhos e sugestões. Suas cartas eram escritas
à noite, e os estudantes voltavam com elas a Bade, de manhã. Para
iludir a vigilância do guarda estacionado às portas da cidade, esses
mensageiros levavam sobre a cabeça cestos com aves domésticas, e
era-lhes permitido passar sem impedimento.
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Assim Zwínglio manteve a batalha com seus ardilosos antago-
nistas. Ele “trabalhou mais”, disse Myconius, “com suas meditações,
noites de vigília e conselhos que transmitia a Bade, do que teria feito
discutindo em pessoa no meio de seus inimigos.” — D’Aubigné.
Os representantes de Roma, exultantes pelo triunfo antecipado,
tinham ido a Bade ornamentados com as mais ricas vestes e resplen-
dentes de jóias. Viviam luxuosamente e sua mesa era servida com
as mais custosas iguarias e seletos vinhos. O peso de seus deveres
eclesiásticos era aliviado através de divertimentos e festejos. Em
assinalado contraste apareciam os reformadores, que eram vistos
pelo povo como sendo pouco melhores do que um grupo de pedintes,
e cuja alimentação frugal os conservava apenas pouco tempo à mesa.
O hospedeiro de Oecolampadius, procurando ocasião de observá-lo
em seu quarto, encontrava-o sempre empenhado no estudo ou em
oração e, maravilhando-se grandemente, referiu que o herege era, ao
menos, “muito religioso”.
Na conferência, “Eck altivamente subiu a um púlpito esplen-
didamente ornamentado, enquanto o humilde Oecolampadius, me-
diocremente vestido, foi obrigado a tomar assento defronte de seu
oponente, em um banco tosco.” — D’Aubigné. A voz tonitruante e
ilimitada confiança de Eck nunca lhe faltaram. Seu zelo era estimu-
lado pela esperança do ouro bem como de renome; pois o defensor
da fé deveria ser recompensado com paga liberal. Quando melhores
argumentos falhavam, recorria a insultos e mesmo a blasfêmias.