320
O Grande Conflito
Estado não as poderia proibir, e foi-lhes permitido falar sem serem
molestadas.
O movimento ocorreu, principalmente, entre as classes mais hu-
mildes, e o povo reunia-se nas modestas moradas dos trabalhadores
para ouvir a advertência. Os mesmos pregadores infantis eram na
maior parte habitantes pobres de cabanas. Alguns deles não tinham
mais de seis ou oito anos de idade; e, ao mesmo tempo que sua
vida testificava que amavam o Salvador e procuravam viver em
obediência aos santos mandamentos de Deus, manifestavam, de or-
dinário, apenas a habilidade e inteligência que geralmente se vêem
nas crianças daquela idade. Quando se encontravam em pé diante
do povo, evidenciava-se, entretanto, que eram movidos por uma in-
[367]
fluência acima dos seus dotes naturais. O tom da voz e as maneiras
se transformavam, e com poder solene faziam a advertência do juízo,
empregando as próprias palavras das Escrituras: “Temei a Deus, e
dai-Lhe glória; porque vinda é a hora de Seu juízo.” Reprovavam
os pecados do povo, não somente condenando a imoralidade e o
vício, mas repreendendo o mundanismo e a apostasia, admoestando
os ouvintes a que fugissem apressadamente da ira vindoura.
O povo ouvia com tremor. O Espírito convincente de Deus fa-
lava-lhes ao coração. Muitos eram levados a pesquisar as Escrituras
com novo e mais profundo interesse; os intemperantes e imorais
corrigiam-se; outros abandonavam as práticas desonestas, e fazia-se
uma obra tão assinalada, que mesmo pastores da igreja do Estado
eram obrigados a reconhecer que a mão de Deus estava no movi-
mento.
Era vontade de Deus que as novas da vinda do Salvador fos-
sem dadas nos países escandinavos; e, quando silenciou a voz de
Seus servos, pôs Ele Seu Espírito sobre as crianças para que a obra
pudesse cumprir-se. Quando Jesus Se aproximava de Jerusalém
acompanhado das multidões jubilosas que, com brados de triunfo e
agitação de ramos de palmeiras O aclamavam como Filho de Davi,
os invejosos fariseus apelaram para Ele a fim de que as fizesse silen-
ciar; Jesus, porém, respondeu que tudo aquilo era o cumprimento
da profecia, e que, se aquelas vozes se calassem, as próprias pe-
dras clamariam. O povo, intimidado pelas ameaças dos sacerdotes
e príncipes, cessou com a alegre proclamação ao entrar pelas por-
tas de Jerusalém; mas as crianças, nos pátios do templo, entoavam