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O Grande Conflito
“E qual é a inferência a fazer-se desta linguagem? Não é que o
sofrimento intérmino não fazia parte de sua crença religiosa? Assim
o concebemos; e aqui descobrimos um argumento triunfante em
apoio da mais agradável, mais iluminada, mais benévola hipótese da
pureza e paz, universal e final. Consolou-se, vendo que o filho estava
morto. E por que isto? Porque, pelos olhos da profecia, podia vislum-
brar o glorioso futuro, e ver aquele filho afastado para longe de toda
tentação, livre do cativeiro, e purificado das corrupções do pecado,
e depois de se haver tornado suficientemente santo e esclarecido,
admitido na assembléia dos espíritos elevados e jubilosos. Seu único
conforto era que, sendo removido do presente estado de pecado e
sofrimento, seu amado filho fora para o lugar em que o mais elevado
bafejo do Espírito Santo cairia sobre a sua alma entenebrecida; em
que seu espírito se desdobraria à sabedoria do Céu e aos suaves
transportes do amor imortal, e assim se prepararia com a natureza
santificada para gozar o repouso e companhia da herança celestial.
“Nesse sentido é que desejamos ser compreendidos como crentes
que somos de que a salvação do Céu não depende de coisa alguma
que possamos fazer nesta vida; nem da mudança do coração, feita
presentemente, nem da crença atual nem de uma profissão religiosa.”
Assim reitera o professo ministro de Cristo a falsidade proferida
pela serpente no Éden: “Certamente não morrereis.” “No dia em que
dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus.” Ele
declara que o mais vil pecador — o assassino, o ladrão, o adúltero —
estarão depois da morte preparados para entrar na bem-aventurança
eterna.
E donde tira este adulterador das Escrituras as suas conclusões?
De uma simples sentença que exprime a submissão de Davi aos
desígnios da Providência. Ele “tinha ... saudades de Absalão: porque
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já se tinha consolado acerca de Amnom, que era morto.” Tendo-se
o pungimento desta dor abrandado pelo tempo, seus pensamentos
volveram do filho morto para o vivo, o qual se exilara pelo medo do
justo castigo de seu crime. E esta é a prova de que o incestuoso e
bêbado Amnom foi à sua morte imediatamente transportado para as
bem-aventuradas habitações, a fim de ser ali purificado e preparado
para a companhia dos anjos sem pecado! Fábula aprazível, por certo,
muito apropriada para satisfazer o coração carnal! Esta é a própria