Ameaça à consciência
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nona, mas resolvera deixá-la de lado até segunda-feira, encontrou-a
no dia seguinte transformada em pães e estava cozida pelo poder
divino. Um homem que cozeu o pão depois da hora nona no sábado,
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achou, ao parti-lo na manhã seguinte, que do mesmo saía sangue.
Por meio de tais invencionices absurdas e supersticiosas, esforçaram-
se os defensores do domingo por estabelecer a santidade deste. —
Anais, de Roger de Hoveden.
Na Escócia, assim como na Inglaterra, conseguiu-se considera-
ção maior pelo domingo, unindo-se-lhe uma parte do antigo sábado.
Mas o tempo que se exigia fosse santificado, variava. Um edito do rei
da Escócia declarou que “se deveria considerar santo desde o meio-
dia de sábado”, e que ninguém, desde aquela hora até segunda-feira
de manhã, deveria ocupar-se em trabalhos seculares. — Diálogos
Sobre o Dia do Senhor, de Morer.
Mas, apesar de todos os esforços para estabelecer a santidade
do domingo, os próprios romanistas publicamente confessavam a
autoridade divina do sábado, e a origem humana da instituição pela
qual foi ele suplantado. No século XVI, um concílio papal decla-
rou francamente: “Lembrem-se todos os cristãos de que o sétimo
dia foi consagrado por Deus, recebido e observado, não somente
pelos judeus mas por todos os outros que pretendiam adorar a Deus,
embora nós, os cristãos, tenhamos mudado o Seu sábado para o dia
do Senhor (domingo).” — Ibidem. Os que estavam a se intrometer
com a lei divina, não ignoravam o caráter de sua obra. Achavam-se
deliberadamente colocando-se acima de Deus.
Exemplo notável da política de Roma para com os que dela
discordavam, foi dado na longa e sanguinolenta perseguição dos
valdenses, alguns dos quais eram observadores do sábado. Outros
sofreram de modo semelhante pela sua fidelidade para com o quarto
mandamento. A história das igrejas da Etiópia é especialmente
significativa. Em meio das trevas da Idade Média, os cristãos da
África Central foram perdidos de vista e esquecidos pelo mundo, e
durante muitos séculos gozaram liberdade no exercício de sua fé.
Mas finalmente Roma soube de sua existência, e o imperador da
Etiópia foi logo induzido a reconhecer o papa como vigário de Cristo.
Seguiram-se outras concessões. Foi promulgado um edito proibindo
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a observância do sábado, sob as mais severas penas. — História
Eclesiástica da Etiópia, de Michael Geddes. Mas a tirania papal se