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O Grande Conflito
Não soltaram nenhum grito de dor. Ao levantarem-se as chamas,
começaram a cantar hinos, e mal podia a veemência do fogo fazer
silenciar o seu canto.” — Wylie.
Depois de completamente consumido o corpo de Huss, suas
cinzas, e a terra em que repousavam, foram ajuntadas e lançadas
no Reno, e assim levadas para além do oceano. Seus perseguido-
res em vão imaginavam ter desarraigado as verdades que pregara.
Dificilmente se dariam conta de que as cinzas naquele dia levadas
para o mar deveriam ser qual semente espalhada em todos os países
da Terra; de que em terras ainda desconhecidas produziriam fruto
abundante em testemunho da verdade. A voz que falara no recinto do
concílio em Constança, despertara ecos que seriam ouvidos através
de todas as eras vindouras. Huss já não mais existia, mas as verda-
des por que morrera, não pereceriam jamais. Seu exemplo de fé e
constância animaria multidões a permanecerem firmes pela verdade,
em face da tortura e da morte. Sua execução patenteou ao mundo
inteiro a pérfida crueldade de Roma. Os inimigos da verdade, posto
não o soubessem, haviam estado a adiantar a causa que eles em vão
procuraram destruir.
Contudo, outra fogueira deveria acender-se em Constança. O
sangue de mais uma testemunha deveria testificar da verdade. Jerô-
nimo, ao dizer adeus a Huss à partida para o concílio, exortou-o a
que tivesse coragem e firmeza, declarando que, se caísse em algum
perigo, ele próprio acudiria em seu auxílio. Ouvindo acerca da prisão
do reformador, o fiel discípulo imediatamente se preparou para cum-
prir a promessa. Sem salvo-conduto, com um único companheiro,
partiu para Constança. Ali chegando, convenceu-se de que apenas
se havia exposto ao perigo, sem a possibilidade de fazer qualquer
coisa para o livramento de Huss. Fugiu da cidade, mas foi preso em
viagem para casa e conduzido de volta em ferros, sob a guarda de um
grupo de soldados. Ao seu primeiro aparecimento perante o concílio,
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as tentativas de Jerônimo para responder às acusações apresentadas
contra ele eram defrontadas com clamores: “Às chamas! Que vá às
chamas!” — Bonnechose. Foi lançado numa masmorra, acorrentado
em posição que lhe causava grande sofrimento e alimentado a pão e
água. Depois de alguns meses, as crueldades da prisão causaram-lhe
uma enfermidade que lhe pôs em perigo a vida, e seus inimigos,