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O Maior Discurso de Cristo
treva, da mesma maneira que, estivesse ele no lugar dessas almas,
desejaria que elas lha comunicassem. Disse o apóstolo Paulo: “Eu
sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a
ignorantes.”
Romanos 1:14
. Por tudo quanto tendes aprendido acerca
do amor de Deus, por tudo quanto tendes recebido dos ricos dons de
Sua graça acima da mais entenebrecida e degradada alma da Terra,
sois devedores para com essa alma no sentido de lhe comunicar esse
dons.
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Da mesma maneira quanto aos dons e bênçãos desta vida: tudo
quanto possuís acima de vossos semelhantes, coloca-vos, na mesma
proporção, em débito para com os menos favorecidos. Possuamos
nós fortuna, ou mesmo os confortos da vida, achamo-nos na mais
solene obrigação de cuidar dos sofredores enfermos, das viúvas e
dos órfãos, exatamente como desejaríamos que eles cuidassem de
nós, caso se invertessem as condições.
A regra áurea, implicitamente, ensina a mesma verdade dou-
trinada algures no Sermão da Montanha, de que “com a mesma
medida com que medirdes também vos medirão de novo”. Aquilo
que fazemos aos outros, seja bem ou seja mal, terá, certamente, sua
reação sobre nós, quer em bênção quer em maldição. Tudo quanto
dermos, havemos de tornar a receber. As bênçãos terrestres que co-
municamos a outros podem ser, e são-no com freqüência, retribuídas
em bondade. O que damos, é-nos muitas vezes recompensado, em
tempos de necessidade, quadruplicado, na moeda do reino. Além
disto, porém, todas as dádivas são retribuídas, mesmo aqui, em uma
mais plena absorção de Seu amor, o que é o resumo de toda glória
celeste e seu tesouro. E o mal comunicado volve também. Todo
aquele que se tem sentido na liberdade de condenar ou levar outros
ao desânimo, será, em sua própria vida, levado a passar pela experi-
ência por que fez outros passarem; sentirá aquilo que eles sofreram
devido à sua falta de compassiva compreensão e ternura.
É o amor de Deus para conosco que assim decretou. Ele nos quer
levar a aborrecer nossa dureza de coração, e abrir o mesmo para que
Jesus aí venha a habitar. E assim, do mal se produz um bem, e o que
se afigurava maldição, torna-se bênção.
A norma da regra áurea é a verdadeira norma do cristianismo;
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tudo que a deixa de cumprir, é um engano. Uma religião que induz
os homens a estimarem em pouco os seres humanos, avaliados por