Página 153 - Patriarcas e Profetas (2007)

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Jacó e Esaú
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ções que repousavam sobre o possuidor da primogenitura. Aquele
que herdasse suas bênçãos devia dedicar a vida ao serviço de Deus.
Como Abraão, devia ser obediente aos mandos divinos. Em seu
casamento, nas relações familiares, na vida pública, devia consultar
a vontade de Deus.
Isaque fez saber a seus filhos esses privilégios e condições, e
claramente declarou que Esaú, como o mais velho, era o que tinha
direito à primogenitura. Esaú, porém, não tinha amor à devoção nem
inclinação para uma vida religiosa. Os requisitos que acompanhavam
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a primogenitura espiritual eram para ele uma restrição importuna e
mesmo odiosa. A lei de Deus, que era a condição do concerto divino
com Abraão, era considerada por Esaú como um jugo de escravidão.
Propenso à satisfação própria, nada desejava tanto como a liberdade
para fazer conforme lhe agradasse. Para ele, poderio e riquezas,
festas e orgias, eram felicidade. Ele se gloriava na liberdade sem
restrições de sua vida selvagem e errante. Rebeca lembrava-se das
palavras do anjo, e lia com mais clara penetração do que o fazia seu
marido, o caráter de seus filhos. Estava convicta de que a herança da
promessa divina destinava-se a Jacó. Ela repetia a Isaque as palavras
do anjo; mas as afeições do pai centralizavam-se no filho mais velho,
e ele era inabalável em seu propósito.
Jacó soubera por sua mãe da indicação divina de que a primoge-
nitura lhe recairia, e encheu-se de um indescritível desejo de obter
os privilégios que a mesma conferia. Não era a posse da riqueza de
seu pai o que ele desejava ansiosamente; a primogenitura espiritual
era o objeto de seu anelo. Ter comunhão com Deus, como fizera o
justo Abraão, oferecer o sacrifício expiatório por sua família, ser o
pai do povo escolhido, e do Messias prometido, e herdar a posse
imortal que estava compreendida nas bênçãos do concerto — eis aí
os privilégios e honras que acendiam os seus mais ardentes desejos.
Seu espírito estava sempre a penetrar o futuro, e procurava apreender
suas bênçãos invisíveis.
Com um anelo secreto escutava tudo que seu pai dizia com
relação à primogenitura espiritual; entesourava cuidadosamente o
que aprendera de sua mãe. Dia e noite o assunto lhe ocupava os
pensamentos, até que se tornou o interesse absorvente de sua vida.
Mas, conquanto Jacó assim estimasse as bênçãos eternas mais do
que as temporais, não tinha um conhecimento experimental do Deus