Página 155 - Patriarcas e Profetas (2007)

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Jacó e Esaú
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a realizar a solene cerimônia em segredo. De acordo com o costume
de fazer um banquete em tais ocasiões, o patriarca deu ordem a
Esaú: “Sai ao campo, e apanha para mim alguma caça, e faze-me
um guisado saboroso, [...] para que minha alma te abençoe, antes
que morra”.
Gênesis 27:3, 4
.
Rebeca adivinhou o seu propósito. Ela estava certa de que isto
era contrário ao que Deus revelara como Sua vontade. Isaque estava
no perigo de incorrer no desagrado divino, e de privar seu filho mais
moço da posição para a qual Deus o chamara. Em vão, ela tentou
argumentar com Isaque; e decidiu recorrer à sutileza.
Mal partira Esaú em sua incumbência, Rebeca entregou-se à rea-
lização de seu intuito. Contou a Jacó o que acontecera, insistindo na
necessidade de ação imediata para impedir a concessão da bênção,
de maneira final e irrevogável, a Esaú. E afirmou a seu filho que, se
seguisse suas instruções, poderia obtê-la, conforme Deus prometera.
Jacó não consentiu facilmente no plano que ela propunha. O pensa-
mento de enganar a seu pai causava-lhe grande angústia. Sentia que
tal pecado traria maldição em vez de bênção. Mas seus escrúpulos
foram vencidos, e começou a pôr em execução as sugestões de sua
mãe. Não era sua intenção proferir uma falsidade direta; mas, uma
vez na presença de seu pai, pareceu-lhe ter ido demasiado longe para
voltar, e obteve pela fraude a cobiçada bênção.
Jacó e Rebeca foram bem-sucedidos em seu propósito, mas
ganharam apenas inquietações e tristeza por seu engano. Deus de-
clarara que Jacó receberia a primogenitura, e Sua palavra ter-se-ia
cumprido ao tempo que Lhe aprouvesse, se tivessem pela fé espe-
rado por Ele a fim de operar em favor deles. Mas, semelhantes a
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muitos que hoje professam ser filhos de Deus, não estiveram dis-
postos a deixar esta questão em Suas mãos. Rebeca arrependera-se
amargamente do mau conselho que dera a seu filho; tal fora o meio
de separá-lo dela, e nunca mais lhe viu o rosto. Desde a hora em que
recebeu a primogenitura, Jacó sentiu sobre si o peso da condenação
própria. Tinha pecado contra o pai, o irmão, a própria alma, e contra
Deus. Em uma rápida hora, efetuara uma ação para o arrependi-
mento de uma vida. Vívida se achava esta cena diante dele nos anos
posteriores, quando o procedimento ímpio de seus próprios filhos
lhe oprimia a alma.