Página 182 - Patriarcas e Profetas (2007)

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Patriarcas e Profetas
e dois achava-se diante dele; foi-se, porém, à pressa, esquecendo seu
cansaço com o pensamento de aliviar a ansiedade do pai, e encontrar
os irmãos, a quem, apesar de sua maldade, ainda amava.
Seus irmãos viram-no aproximar-se; porém nenhum pensamento
da longa viagem que fizera para os encontrar, de seu cansaço e fome,
do direito à sua hospitalidade e amor fraternal, abrandou a amargura
de seu ódio. A vista da capa, sinal do amor de seu pai, encheu-os de
agitação. “Eis lá vem o sonhador-mor!” (
Gênesis 37:19
) exclama-
ram zombeteiramente. A inveja e a vingança, durante muito tempo
secretamente acalentadas, agora os dominavam. “Matemo-lo”, dis-
seram, “e lancemo-lo numa destas covas, e diremos: Uma besta fera
o comeu; e veremos que será dos seus sonhos”.
Gênesis 37:20
.
Teriam executado seu intento, se não fora Rúben. Ele se negou
a participar do assassínio de seu irmão, e propôs que José fosse
lançado vivo em uma cova, e ali deixado a perecer, sendo, entretanto,
seu intuito secreto, livrá-lo, e devolvê-lo ao pai. Tendo persuadido
todos a consentirem neste plano, Rúben deixou o grupo, receando
que não pudesse dominar seus sentimentos, e fossem descobertas
suas verdadeiras intenções.
José chegou, sem suspeitar do perigo, e alegre de que o objetivo
de sua longa pesquisa estivesse cumprido; mas em vez da esperada
saudação aterrorizou-se pela ira e olhares vingativos que encontrou.
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Agarraram-no e tiraram-lhe a capa. Zombarias e ameaças revelavam
um propósito mortal. Seus rogos não foram atendidos. Estava in-
teiramente em poder daqueles homens enfurecidos. Arrastando-o
rudemente para uma profunda cova, lançaram-no ali, e, tendo-se cer-
tificado de que não havia possibilidade de escapar, deixaram-no para
perecer de fome, enquanto “assentaram-se a comer pão”.
Gênesis
37:25
.
Alguns deles, porém, não estavam à vontade, não sentiam a sa-
tisfação que tinham tido em perspectiva pela sua vingança. Logo foi
visto a aproximar-se um grupo de viajantes. Era uma caravana de
ismaelitas de além Jordão, a caminho para o Egito, com especiarias
e outras mercadorias. Judá propôs então vender seu irmão àqueles
mercadores gentios, em vez de o deixar a morrer. Ao mesmo tempo
em que ele seria eficazmente posto fora de seu caminho, permanece-
riam limpos de seu sangue; “porque”, insistiu, “ele é nosso irmão,