Página 608 - Patriarcas e Profetas (2007)

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Patriarcas e Profetas
Saul, entretanto, não permaneceu muito tempo amigo de Davi.
Quando Saul e Davi voltavam da batalha aos filisteus, “as mulheres
de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei Saul, can-
tando, e dançando, com adufes, com alegria, e com instrumentos de
música”. Um grupo cantava: “Saul feriu os seus milhares”, enquanto
o outro grupo apanhava o estribilho, e respondia: “Porém Davi os
seus dez milhares.” O demônio da inveja entrou no coração do rei.
Ficou irado porque Davi era mais exaltado que ele no cântico das
mulheres de Israel. Em vez de subjugar estes sentimentos de inveja,
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manifestou a fraqueza de seu caráter, e exclamou: “Dez milhares
deram a Davi, e a mim somente milhares; na verdade, que lhe falta
senão só o reino?”
1 Samuel 18:6-8
.
Um grande defeito no caráter de Saul era seu amor à aprovação.
Esta característica tivera uma influência preponderante em suas
ações e pensamentos; tudo se assinalava pelo seu desejo de louvor
e exaltação própria. Sua norma para o que era reto e aquilo que o
não era, consistia no baixo padrão do aplauso popular. A pessoa
que vive para agradar aos homens, e não procura primeiramente a
aprovação de Deus, não está livre de perigo. Era a aspiração de Saul
ser o primeiro na estima dos homens; e, quando foi entoado este
cântico de louvor, uma firme convicção entrou no espírito do rei, de
que Davi ganharia o coração do povo, e reinaria em seu lugar.
Saul abriu o coração ao espírito de inveja de que sua alma estava
envenenada. Apesar das lições que havia recebido do profeta Sa-
muel, dando-lhe a instrução de que Deus cumpriria o que quer que
Ele desejasse, e que ninguém O poderia impedir, o rei demonstrou
que não tinha verdadeiro conhecimento dos planos de Deus. O rei
de Israel estava opondo sua vontade à do Ser infinito. Saul não tinha
aprendido, enquanto governava o reino de Israel, que devia gover-
nar seu próprio espírito. Permitiu que os ímpetos lhe dirigissem o
discernimento, até mergulhar-se no furor da paixão. Tinha ataques
de raiva, ocasiões em que se dispunha a tirar a vida de qualquer que
ousasse opor-se à sua vontade. Deste frenesi passava a um estado de
desalento e desprezo de si mesmo, e o remorso se apoderava de seu
coração.
Gostava de ouvir Davi tocar harpa, e o espírito mau parecia
afastar-se como por encanto durante aquele tempo; um dia, porém,
quando o jovem estava a servir perante ele, e de seu instrumento