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Patriarcas e Profetas
pudesse servir como desculpa para acarretar-lhe a desonra. Entendia
que não poderia ficar satisfeito antes que tirasse a vida do moço
e ainda assim estivesse justificado perante a nação pelo seu mau
ato. Pôs uma cilada para os pés de Davi, instando com ele para
que dirigisse a guerra contra os filisteus com um vigor ainda maior,
e prometendo, como recompensa ao seu valor, casamento com a
filha mais velha da casa real. A resposta modesta de Davi a esta
proposta foi: “Quem sou eu, e qual é a minha vida e a família de
meu pai em Israel, para vir a ser genro do rei?” O rei manifestou sua
insinceridade, dando a princesa em casamento a outro.
Uma afeição a Davi por parte de Mical, a filha mais moça de
Saul, proporcionou ao rei outra oportunidade para tramar contra
seu rival. A mão de Mical foi oferecida ao moço sob condição de
ser apresentada a prova de derrota e morticínio de certo número
de seus adversários nacionais: “Saul tentava fazer cair a Davi pela
mão dos filisteus”; Deus, porém, protegeu o Seu servo. Davi voltou
vitorioso da batalha, para tornar-se genro do rei. “Mical, filha de
Saul, o amava” (
1 Samuel 18:18, 25, 20
), e o rei, enraivecido, viu
que suas tramas haviam resultado no engrandecimento daquele a
quem procurava destruir. Estava ainda mais certo de que este era o
homem que o Senhor dissera ser melhor do que ele, e que reinaria
no trono de Israel, em seu lugar. Arremessando de si todo o disfarce,
expediu uma ordem a Jônatas e aos oficiais da corte para tirarem a
vida daquele a quem odiava.
Jônatas revelou a intenção do rei a Davi, e mandou-o que se
escondesse, enquanto ele pleitearia com seu pai a fim de poupar a
vida do libertador de Israel. Expôs ao rei o que Davi tinha feito para
preservar a honra e mesmo a vida da nação, e que terrível crime
repousaria sobre o assassino daquele que Deus usara para dispersar
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seus inimigos. Comoveu-se a consciência do rei, e abrandou-se-lhe o
coração. “E jurou Saul: Vive o Senhor, que não morrerá”.
1 Samuel
19:6
. Davi foi trazido a Saul, e servia em sua presença, como havia
feito anteriormente.
De novo foi declarada a guerra entre os israelitas e os filisteus,
e Davi conduziu o exército contra os inimigos. Uma grande vitória
foi ganha pelos hebreus, e o povo do reino louvou sua sabedoria e
heroísmo. Isto serviu para instigar a anterior animosidade de Saul
contra ele. Enquanto o moço tocava perante o rei, enchendo o palácio