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Patriarcas e Profetas
dignos de morte, vós que não guardastes a vosso senhor, o ungido do
Senhor; vede, pois, agora onde está a lança do rei, e a bilha da água,
que tinha à sua cabeceira. Então conheceu Saul a voz de Davi, e
disse: Não é esta a tua voz, meu filho Davi? E disse Davi: Minha voz
é, ó rei meu senhor. Disse mais: Por que persegue meu senhor assim o
seu servo? Pois que fiz eu? E que maldade se acha nas minhas mãos?
Ouve, pois, agora, te rogo, rei meu senhor, as palavras de teu servo.”
De novo caiu dos lábios do rei o reconhecimento: “Pequei; volta,
meu filho Davi, porque não mandarei fazer-te mal; porque foi hoje
preciosa a minha vida aos teus olhos. Eis que procedi loucamente,
e errei grandissimamente. Davi então respondeu, e disse: Eis aqui
a lança do rei; passe cá um dos mancebos, e leve-a.” Embora Saul
fizesse a promessa: “Não mais te farei mal” (
1 Samuel 26:15-22
),
Davi não se pôs sob o seu poder.
Este segundo exemplo do respeito de Davi pela vida de seu
soberano, produziu impressão ainda mais profunda no espírito de
Saul, e alcançou dele um reconhecimento mais humilde de sua
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falta. Ficou admirado e vencido com tal manifestação de bondade.
Despedindo-se de Davi, Saul exclamou: “Bendito sejas tu, meu filho
Davi; pois grandes coisas farás, e também prevalecerás”.
1 Samuel
26:21
. Mas o filho de Jessé não tinha esperança que o rei continuasse
muito tempo nesta disposição de espírito.
Davi não esperava uma reconciliação com Saul. Parecia inevi-
tável que finalmente ele tombasse como vítima da malícia do rei;
e resolveu de novo buscar refúgio na terra dos filisteus. Com os
seiscentos homens sob o seu comando, passou-se para Aquis, rei de
Gate.
A conclusão de Davi, de que Saul certamente cumpriria seu
intuito assassino, foi formulada sem o conselho de Deus. Mesmo
quando Saul estava tramando e procurando levar a efeito a sua des-
truição, o Senhor agia com o fim de assegurar a Davi o reino. Deus
efetua Seus planos, embora aos olhos humanos estejam velados em
mistério. Os homens não podem compreender os caminhos de Deus;
e, olhando às aparências, interpretam os sofrimentos, provações e
experiências que Deus permite que venham sobre eles, como coisas
que contra eles são, e que apenas farão a sua ruína. Assim Davi
olhava para as aparências, e não para as promessas de Deus. Duvi-