Liberto da prisão
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houvessem sempre respeitado como governador, dali em diante o
adorariam como a um deus.
Alguns daqueles cujas vozes agora eram ouvidas a glorificar um
vil pecador, fazia poucos anos haviam levantado o grito frenético:
Fora com Jesus! Crucifica-O, crucifica-O! Os judeus tinham-se re-
cusado a receber a Cristo, cujas vestes, simples e muitas vezes sujas
pelas viagens, cobriam um coração de amor divino. Seus olhos não
podiam discernir, sob o humilde exterior, o Senhor da vida e da gló-
ria, embora o poder de Cristo fosse revelado diante deles em obras
que nenhum mero homem poderia fazer. Estavam, porém, prontos
a adorar como a um deus, o altivo rei, cujas esplêndidas vestes de
prata e ouro cobriam um coração corrupto e cruel.
Herodes sabia que não merecia nenhum dos louvores e home-
nagens que lhe eram tributados, todavia aceitou a idolatria do povo
como se lhes fosse devida. Seu coração saltou de triunfo e um
lampejo de orgulho satisfeito espalhou-se-lhe pelo rosto ao ouvir a
aclamação: “Voz de deus, e não de homem”.
Atos dos Apóstolos
12:22
.
Subitamente, porém, sobreveio-lhe uma terrível mudança. Seu
rosto se tornou pálido como a morte e contorcido pela agonia. Gran-
des gotas de suor lhe brotaram dos poros. Ficou, por um momento,
como que traspassado de dor e terror; então, volvendo a face bran-
queada e lívida para seus amigos tomados de horror, exclamou em
tom rouco e desesperado: Aquele que exaltastes como um deus, está
ferido de morte!
Sofrendo a mais cruciante angústia, foi retirado daquela cena
de orgia e ostentação. Um momento antes ele tinha sido o alvo
orgulhoso do louvor e adoração daquela vasta multidão; agora, se
compenetrava, de que se achava nas mãos de um Governador mais
poderoso do que ele próprio. Remorsos o atormentavam: lembrou-se
de sua implacável perseguição aos seguidores de Cristo; lembrou-se
de sua ordem cruel para matar o inocente Tiago, e seu intento de tirar
a vida ao apóstolo Pedro; recordou-se de como, em seu desgosto
e decepcionada raiva, tirara uma injusta desforra dos guardas da
prisão. Sentia que, agora, Deus estava a tratar com ele, o implacável
perseguidor. Não encontrou alívio para a dor do corpo nem para a
angústia do espírito, e nem esperava encontrar.