Judeus e gentios
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gentios haviam alcançado. Deram-lhes, então, um claro esboço da
confusão que resultara porque certos fariseus convertidos tinham ido
a Antioquia declarando que, para serem salvos, os conversos gentios
precisavam ser circuncidados e deviam guardar a lei de Moisés.
Essa questão foi ardorosamente debatida na assembléia. Em ín-
tima relação com o assunto da circuncisão estavam vários outros
que demandavam cuidadoso estudo. Um deles era quanto à atitude
a ser tomada com respeito a carnes sacrificadas a ídolos. Muitos
dos gentios convertidos estavam vivendo entre pessoas ignorantes e
supersticiosas, que faziam freqüentes sacrifícios e ofertas a ídolos.
Os sacerdotes desse culto pagão mercadejavam extensamente com
ofertas a eles trazidas; e os judeus temiam que os gentios conver-
sos pudessem levar descrédito ao cristianismo comprando aquilo
que tinha sido sacrificado aos ídolos, sancionando assim, em certa
medida, costumes idólatras.
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Além disso, os gentios estavam acostumados a comer a carne
de animais estrangulados, aos passo que os judeus tinham sido di-
vinamente instruídos de que, quando animais fossem mortos para
alimento, se tomasse particular cuidado para que o sangue fosse
derramado do corpo; a não ser assim a carne não poderia ser consi-
derada saudável. Deus havia dado essas injunções aos judeus a fim
de preservar-lhes a saúde. Os judeus consideravam pecaminoso usar
sangue como alimento. Consideravam que o sangue era a vida, e
que o derramamento do sangue era conseqüência do pecado.
Os gentios, ao contrário, costumavam aparar o sangue derramado
da vítima sacrifical e usá-lo na preparação de alimento. Os judeus
não podiam crer que estivessem obrigados a mudar de costumes que
haviam adotado sob a especial direção de Deus. Portanto, como as
coisas, então, se apresentavam, se um judeu e um gentio se assentas-
sem à mesma mesa para comer, o primeiro se consideraria ofendido
e ultrajado pelo último.
Os gentios, e especialmente os gregos, eram extremamente li-
berais, e havia o perigo de que alguns, não convertidos de coração,
fizessem uma profissão de fé sem renunciar as suas más práticas. Os
cristãos judeus não podiam tolerar a imoralidade, que nem mesmo
era considerada crime pelos pagãos. Os judeus, portanto, considera-
vam necessário que a circuncisão e a observância da lei cerimonial
fossem impostas aos conversos gentios como um teste de sua since-