Página 327 - Atos dos Ap

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Em Roma
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Depois de oferecer-se para assumir o débito de Onésimo, Paulo
recordou a Filemom o quanto ele próprio era devedor ao apóstolo.
Devia-lhe sua própria vida, uma vez que Deus tinha feito Paulo o
instrumento de sua conversão. Então, num apelo fervoroso e terno,
suplicou a Filemom que, assim como ele havia por sua liberali-
dade vivificado os santos, também vivificaria o espírito do apóstolo
concedendo-lhe essa causa de regozijo. “Escrevi-te”, ele acrescen-
tou, “confiado na tua obediência, sabendo que ainda farás mais do
que digo”.
Filemom 21
.
A carta de Paulo a Filemom mostra a influência do evangelho
nas relações entre senhores e servos. A escravidão era instituição
estabelecida em todo o império romano, e tanto senhores como es-
cravos eram encontrados na maioria das igrejas pelas quais Paulo
trabalhou. Nas cidades, onde os escravos eram muitas vezes muito
mais numerosos do que a população livre, leis de terrível severidade
eram consideradas necessárias para mantê-los em sujeição. Um ro-
mano rico possuía, não raro, centenas de escravos de toda categoria,
de todas as nações e de toda habilidade. Com pleno controle sobre a
vida e o corpo dessas desajudadas criaturas, podiam infligir-lhes o
castigo que desejassem. Se um deles, por vingança ou autodefesa,
ousasse levantar a mão para seu proprietário, toda a família do ofen-
sor poderia ser cruelmente sacrificada. O mais leve erro, acidente ou
descuido eram, muitas vezes, punidos sem misericórdia.
Alguns senhores, mais humanos que outros, eram mais indulgen-
tes para com seus servos; mas a grande maioria dos ricos e nobres,
procedendo sem restrição à luxúria, paixão e apetite, tornava seus
escravos miseráveis vítimas de capricho e tirania. A tendência de
todo o sistema era desesperadamente degradante.
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Não era obra do apóstolo subverter arbitrária ou subitamente a
ordem estabelecida da sociedade. Tentar isso seria impedir o sucesso
do evangelho. Mas ele ensinava os princípios que atingiam o próprio
fundamento da escravatura, os quais, se postos em execução, mina-
riam seguramente todo o sistema. “Onde está o Espírito do Senhor
aí há liberdade”, declarou ele.
2 Coríntios 3:17
. Quando convertido,
o escravo tornava-se membro do corpo de Cristo, e como tal, devia
ser amado e tratado como irmão, co-herdeiro com seu senhor das
bênçãos de Deus e dos privilégios do evangelho. Por outro lado, os
servos deviam cumprir seus deveres, “não servindo à vista, como