400
Atos dos Apóstolos
quem amara e servira, as mensagens que foram dadas nessa costa
desolada deviam avançar como uma lâmpada que arde, declarando
o seguro propósito do Senhor concernente a cada nação da Terra.
Entre as rochas e recifes de Patmos, João manteve comunhão
com seu Criador. Recapitulou sua vida passada e, ao pensamento
das bênçãos que havia recebido, a paz encheu-lhe o coração. Ele
vivera a vida de um cristão, e pudera dizer com fé: “Sabemos que
passamos da morte para a vida”.
1 João 3:14
. Não assim o imperador
que o banira. Este olharia para trás e encontraria apenas campos de
batalha e carnificina, lares desolados, lágrimas de órfãos e viúvas, o
fruto de seu ambicioso desejo de proeminência.
Em seu isolado lar, João estava habilitado a estudar mais pro-
fundamente do que nunca as manifestações do poder divino como
reveladas no livro da natureza e nas páginas da Inspiração. Era para
ele um deleite meditar sobre a obra da criação, e adorar o divino
Arquiteto. Em anos anteriores, seus olhos tinham-se deleitado na
[320]
contemplação dos morros cobertos de florestas, dos verdes vales e
frutíferas planícies; e nas belezas da natureza sempre se deleitara em
considerar a sabedoria e habilidade do Criador. Agora, estava cir-
cundado por cenas que poderiam parecer melancólicas e desinteres-
santes a muitos; mas para João representavam outra coisa. Embora
o cenário que o rodeava fosse desolado e árido, o céu azul que o
cobria era tão luminoso e belo como o céu de sua amada Jerusalém.
Nas rochas rudes e ermos, nos mistérios dos abismos, nas glórias
do firmamento lia ele importantes lições. Tudo trazia mensagem do
poder e glória de Deus.
Em tudo ao seu redor via o apóstolo testemunhas do dilúvio que
inundara a Terra porque seus habitantes se aventuraram a transgredir
a lei de Deus. As rochas que foram lançadas da Terra e do grande
abismo pelo irromper das águas, traziam-lhe vividamente ao espírito
os terrores daquele terrível derramamento da ira de Deus. Na voz
de muitas águas — abismo chamando abismo — o profeta ouvia a
voz do Criador. O mar, açoitado pela fúria de impiedosos ventos,
representava para ele a ira de um Deus ofendido. As poderosas
ondas, em sua terrível comoção, mantidas em seus limites por mão
invisível, falavam do controle de um poder infinito. E em contraste,
considerava a fraqueza e futilidade dos mortais que, embora vermes
do pó, gloriam-se em sua suposta sabedoria e força e colocam o