172
A Ciência do Bom Viver
degradação e à ruína? Ele enriquece à custa do bocado daqueles a
quem está arrastando à perdição.
Casas de prostituição, antros de vícios, tribunais criminais, pri-
sões, casas de caridade, asilos de alienados, hospitais — todos, em
alto grau, se acham cheios em resultado da obra do vendedor de
[145]
bebidas. Como a Babilônia mística do Apocalipse, ele está mercade-
jando com “corpos” e “almas de homens”. Por trás do vendedor de
bebidas está o grande destruidor de almas, e toda arte, que a Terra
ou o inferno possa imaginar, é empregada para atrair as criaturas
humanas para debaixo de seu poder. Na cidade e no campo, nos trens
da estrada de ferro, nos grandes navios, nos lugares de comércio,
nos salões de prazer, no dispensário médico, e mesmo na igreja, na
sagrada mesa da comunhão, são lançadas suas armadilhas. Coisa
alguma é esquecida a fim de criar e fomentar o desejo de intoxican-
tes. Em quase todas as esquinas, acha-se um bar, com suas luzes
brilhantes, seus atrativos e animação, convidando o trabalhador, o
rico ocioso e o incauto jovem.
Nos restaurantes particulares e lugares de recreio, oferecem-se,
às senhoras, sob alguma designação aprazível, bebidas populares
que são na verdade intoxicantes. Para os doentes e debilitados, há os
largamente preconizados aperitivos, que consistem em grande parte
de álcool.
Para despertar nas crianças o apetite de bebida, introduz-se o ál-
cool em confeitos ou bombons. Esses são vendidos nas confeitarias.
E por meio desses confeitos o vendedor de bebidas atrai para si as
crianças.
Dia a dia, mês a mês, ano a ano, prossegue a obra. Pais e maridos
e irmãos, o esteio, a esperança e o orgulho da nação, vão decidida-
mente passando para os antros do traficante de bebidas para serem
devolvidos desgraçados em ruínas.
Mais terrível ainda, a praga está ferindo o próprio coração do
lar. Mais e mais estão as mulheres formando o hábito da bebida. Em
muitas casas, estão crianças, mesmo na inocência e desamparo de
seus primeiros dias, em perigo diário, devido à negligência, ao mau
trato, à vileza de mães embriagadas. Filhos e filhas estão a crescer
à sombra desse terrível mal. Quais as perspectivas para seu futuro,
senão que venham a abismar-se ainda mais fundo que seus pais?