Página 211 - O Desejado de Todas as Na

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Em Cafarnaum
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todo o poder para reter o domínio sobre a vítima. Perder terreno
aqui, seria dar a Jesus uma vitória. Dir-se-ia que o torturado homem
devesse perder a vida na luta com o inimigo que fora a ruína de
seu vigor varonil. Mas o Salvador falou com autoridade, e libertou
o cativo. O homem que estivera possesso ali se achava perante o
povo admirado, feliz na liberdade da posse de si mesmo. O próprio
demônio testificara do poder do Salvador.
O homem louvou a Deus por seu livramento. Os olhos que havia
pouco tanto tinham chispado sob a chama da loucura, brilhavam
agora de inteligência, e inundavam-se de lágrimas de gratidão. O
povo estava mudo de espanto. Assim que recobraram a fala, excla-
mavam uns para os outros: “Que palavra é esta? que nova doutrina é
esta? pois com autoridade ordena aos espíritos imundos, e eles Lhe
obedecem!”
Marcos 1:27
.
A causa oculta da aflição que tornara esse homem um terrível
espetáculo a seus amigos e um fardo para si mesmo, achava-se
em sua própria vida. Fora fascinado pelos prazeres do pecado, e
pensara fazer da própria vida um grande carnaval. Não sonhava em
se tornar um terror para o mundo, e uma vergonha para a família.
Julgou poder gastar o tempo em extravagâncias inocentes. Uma
vez no declive, porém, resvalou rapidamente. A intemperança e
a frivolidade perverteram-lhe os nobres atributos da natureza, e
Satanás tomou sobre ele inteiro domínio.
Demasiado tarde veio o remorso. Quando quis sacrificar fortuna
e prazer para readquirir a perdida varonilidade, tornara-se incapaz
nas garras do maligno. Colocara-se no terreno do inimigo, e Satanás
tomara posse de todas as suas faculdades. O tentador o seduzira
com muitas representações encantadoras; uma vez que o desgraçado
se achava em seu poder, no entanto, tornara-se infatigável em sua
crueldade, e terrível em suas iradas visitações. Assim será com todos
quantos condescendem com o mal; o fascinante prazer do princípio
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de sua carreira termina nas trevas do desespero ou na loucura de
uma mente arruinada.
O mesmo espírito mau que tentara a Cristo no deserto e, possuía
o louco de Cafarnaum, dominava os incrédulos judeus. Para com
eles, porém, assumia ar de piedade, buscando enganá-los quanto
aos motivos que tinham em rejeitar o Salvador. Sua condição era
mais desesperadora que a do endemoninhado; pois não sentiam