Página 287 - O Desejado de Todas as Na

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“Cala-te, aquieta-te”
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na praia, os quais se encheram em breve de gente que seguiu a Jesus,
ansiosa de vê-Lo e ouvi-Lo ainda.
O Salvador desafogou-Se enfim do aperto da multidão e, vencido
pela fadiga e a fome, deitou-se na popa do barco, adormecendo em
seguida. A tarde fora calma e aprazível, e espelhava-se por todo o
lago a tranqüilidade; de súbito, porém, sombrias nuvens cobriram o
céu, o vento soprou rijo das gargantas das montanhas sobre a costa
oriental, rebentando sobre o lago violenta tempestade.
Pusera-se o Sol, e a escuridão da noite baixou por sobre o tor-
mentoso mar. As ondas, furiosamente açoitadas pelos ululantes ven-
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tos, sacudiam com violência o barco dos discípulos, ameaçando
submergi-lo. Aqueles intrépidos pescadores haviam passado a vida
no lago, e guiado a salvo a embarcação em meio de muita tormenta;
agora, porém, sua resistência e habilidade nada valiam. Achavam-se
impotentes nas garras da tempestade, e sentiram desampará-los a
esperança ao ver o barco a inundar-se.
Absorvidos nos esforços de se salvar, haviam esquecido a pre-
sença de Jesus ali no barco. Enfim, vendo nulos os seus esforços,
e nada menos que a morte diante de si, lembraram por ordem de
quem haviam empreendido a travessia do lago. Jesus era sua única
esperança. Em seu desamparo e desespero, exclamaram: “Mestre,
Mestre!” Mas a densa treva O ocultava aos olhos deles. Suas vozes
eram abafadas pelo rugido da tempestade, e nenhuma resposta se
ouviu. A dúvida e o temor os assaltaram. Havê-los-ia Jesus abando-
nado? Seria Aquele que vencera a enfermidade e os demônios, e até
mesmo a morte, impotente para ajudar os discípulos? Havê-los-ia
acaso esquecido em sua aflição?
E chamaram novamente, mas nenhuma resposta, a não ser o
irado uivar do vento. Eis que o barco já vai a afundar. Um momento,
e parece que serão tragados pelas revoltosas águas.
De repente, o clarão de um relâmpago penetra as trevas, e vêem
Jesus adormecido, imperturbado pelo tumulto. Surpreendidos, ex-
clamaram em desespero: “Mestre, não se Te dá que pereçamos?”
Marcos 4:38
. Como pode Ele repousar assim tão serenamente, en-
quanto se encontram em perigo, lutando contra a morte?
Seus gritos despertam Jesus. Ao vê-Lo à luz do relâmpago,
notam-Lhe no rosto uma celeste paz; lêem-Lhe no olhar o esqueci-