Página 327 - O Desejado de Todas as Na

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Uma noite no lago
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trouxeram sobre si mesmos grande treva espiritual. Perguntavam:
Poderia ser Jesus um impostor, como afirmavam os fariseus?
Os discípulos haviam testemunhado naquele dia as maravilhosas
obras de Cristo. Dir-se-ia que o Céu baixara à Terra. A lembrança da-
quele dia precioso, glorioso, devera tê-los enchido de fé e esperança.
Houvessem, da abundância de seu coração, estado a conversar entre
si a respeito dessas coisas, e não teriam caído em tentação. Sua de-
cepção, porém, lhes absorvera os pensamentos. Esqueceram-se das
palavras de Cristo: “Recolhei os pedaços que sobejaram, para que
nada se perca.” Foram horas de grandes bênçãos para os discípulos,
aquelas, mas tudo esqueceram. Achavam-se em meio das turbadas
águas. Tinham os pensamentos tempestuosos e desarrazoados, e o
Senhor lhes deu alguma coisa mais para lhes afligir a alma e ocupar
a mente. Deus assim faz muitas vezes, quando os homens criam
preocupações e aflições para si mesmos. Os discípulos não tinham
necessidade de criar perturbação. Já se avizinhava o perigo.
Violenta tempestade se viera imperceptivelmente aproximando
deles, e não estavam preparados para ela. Era um súbito contraste,
pois o dia fora perfeito; e, quando o vento soprou sobre eles,
atemorizaram-se. Esqueceram o aborrecimento, a incredulidade e
impaciência. Todos trabalharam para impedir que o barco fosse a
pique. Era pequena a distância, por mar, de Betsaida para o ponto
em que esperavam encontrar-se com Jesus, e com um tempo nor-
mal não levava senão poucas horas; agora, porém, eram tangidos
cada vez mais longe do local que buscavam. Até a quarta vigília
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da noite, lutaram com os remos. Então, deram-se por perdidos. O
mar, tempestuoso, imerso em trevas, fizera-os sentir seu desamparo,
e anelavam a presença de seu Senhor.
Jesus não os esquecera. O Vigia vira, da praia, aqueles homens
possuídos de temor, em luta com a tempestade. Nem por um mo-
mento perdeu de vista aos discípulos. Com a mais profunda solici-
tude acompanhavam Seus olhos o barco, sacudido pela tempestade,
com sua preciosa carga; pois esses homens deviam ser a luz do
mundo. Como a mãe amorosa a velar o filho, assim cuidava dos
discípulos o compassivo Mestre. Rendidos os corações, acalmadas
as ambições profanas, e pedindo eles humildemente auxílio, este
lhes foi dado.