Página 503 - O Desejado de Todas as Na

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“Eis que o teu rei virá”
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Jesus contempla a cena, e a multidão silencia suas aclamações,
encantada com a súbita visão de beleza. Todos os olhos se volvem
para o Salvador, esperando ver-Lhe no semblante a admiração por
eles próprios experimentada. Ao contrário, no entanto, percebem-
Lhe uma nuvem de tristeza. Surpreendem-se, decepcionam-se ao
ver-Lhe os olhos marejados de lágrimas e o corpo oscilar como a
árvore agitada pela tempestade, enquanto uma angustiosa queixa
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Lhe brota dos trêmulos lábios, como irrompendo das profundezas de
um coração partido. Que cena aquela que se oferecia à contemplação
dos anjos! Seu bem-amado Comandante em lágrimas de angústia!
Que visão para a alegre turba que, com gritos de triunfo e agitar
de palmas O escoltava à gloriosa cidade, onde — esperavam com
ardor — iria Ele em breve reinar! Jesus chorara ao pé do sepulcro
de Lázaro, mas fora numa divina mágoa de simpatia para com a
humana dor. Esta súbita tristeza, porém, era qual nota de lamento
em meio de um grande coro triunfal. Por entre uma cena de re-
gozijo, em que todos Lhe tributavam homenagens, o Rei de Israel
Se debulhava em lágrimas; não as silenciosas lágrimas da alegria,
mas pranto e gemidos de inexprimível angústia. A turba sentiu-se
repentinamente tomada de tristeza. Emudeceram-lhes as aclama-
ções. Muitos choraram, possuídos de simpatia por um pesar que não
podiam compreender.
As lágrimas de Jesus não eram a antecipação de Seus próprios
sofrimentos. Mesmo diante dEle achava-se o Getsêmani, onde em
breve O envolveria o horror de uma grande treva. Estava à vista
também a porta das ovelhas, pela qual, durante séculos, haviam
sido conduzidos os animais destinados às ofertas sacrificais. Essa
porta presto se abriria para Ele, o grande Cordeiro de Deus, a cujo
sacrifício pelos pecados do mundo apontavam todas essas ofertas.
Perto estava o Calvário, cenário de Sua próxima agonia. No entanto,
não foi por causa desses pontos a lembrarem-Lhe a cruel morte que o
Redentor chorou e gemeu em angústia de espírito. Não era uma dor
egoísta, a Sua. O pensamento de Sua própria agonia não intimidava
aquela nobre Alma pronta para o sacrifício. Foi a vista de Jerusalém
que pungiu o coração de Jesus — Jerusalém, que rejeitara o Filho
de Deus e Lhe desdenhara o amor, que recusara ser convencida por
Seus poderosos milagres e estava prestes a tirar-Lhe a vida. Viu o
que ela era, em sua culpa de rejeitar o Redentor, e o que poderia ter