Judas
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condescendia com sua disposição cobiçosa. As pequenas quantias
que lhe chegavam às mãos eram uma tentação contínua. Muitas
vezes, ao prestar qualquer serviçozinho a Cristo, ou dedicar tempo a
fins religiosos, remunerava-se à custa desses poucos fundos. Esses
pretextos serviam a seus olhos de escusa para a ação que praticava;
perante Deus, porém, era ladrão.
A tantas vezes repetida declaração de Cristo de que Seu reino
não era deste mundo, irritava Judas. Estabelecera um limite de espera
à obra de Jesus. Em seus cálculos, João Batista devia ser libertado
da prisão. Mas eis que foi permitido ser ele degolado. E Jesus, em
vez de afirmar seu direito real e vingar a morte de João, retirou-Se
com os discípulos para um lugar no campo. Judas queria uma luta
mais agressiva. Pensava que, se Jesus não impedisse os discípulos
de executar os próprios planos, a obra seria mais bem-sucedida. Ob-
servava a crescente inimizade dos guias judaicos, e viu seus desafios
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desprezados quando pediram a Cristo um sinal do Céu. Abriu-se-lhe
o coração à incredulidade, e o inimigo forneceu pensamentos de
dúvida e rebelião. Por que Jesus Se demorava tanto em coisas desa-
nimadoras? Por que predizia provas e perseguições para Si mesmo
e para os discípulos? A perspectiva de um lugar de honra levara
Judas a desposar a causa de Cristo. Viriam suas esperanças a ser
decepcionadas? Judas não chegara à conclusão de que Jesus não
fosse o Filho de Deus; mas estava duvidando e procurando alguma
explicação para Suas poderosas obras.
Não obstante os próprios ensinos do Salvador, Judas estava con-
tinuamente fomentando a idéia de que Ele havia de governar como
Rei em Jerusalém. Na alimentação dos cinco mil, procurou promo-
ver isso. Nessa ocasião Judas ajudou na distribuição do alimento
à multidão faminta. Teve oportunidade de ver o benefício que es-
tava em seu poder fazer aos outros. Experimentou a satisfação que
sempre acompanha o serviço para Deus. Auxiliou a levar a Jesus
os enfermos dentre a multidão. Viu que alívio, que alegria e satis-
fação sobrevêm ao coração humano mediante o poder de curar do
Restaurador. Poderia ter compreendido os métodos de Cristo. Mas
cegavam-no seus desejos egoístas. Judas foi o primeiro a aproveitar-
se do entusiasmo despertado pelo milagre dos pães. Foi ele que
arquitetou o plano de apoderar-se de Cristo à força e fazê-Lo rei.
Altas eram suas esperanças. Amarga sua decepção.