Página 659 - O Desejado de Todas as Na

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O Calvário
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puseram na cruz; Jesus, porém, nenhuma resistência opôs. A mãe
de Jesus, apoiada por João, o discípulo amado, seguira seu Filho ao
Calvário. Vira-O desmaiar sob o peso do madeiro, e anelara suster
com a mão aquela cabeça ferida, banhar aquela fronte que um dia se
lhe reclinara no seio. Não lhe era, no entanto, concedido esse triste
privilégio. Ela, como os discípulos, acalentava ainda a esperança de
que Jesus manifestasse Seu poder e Se livrasse dos inimigos. Mais
uma vez seu coração desfaleceria, ao evocar as palavras em que lhe
haviam sido preditas as próprias cenas que se estavam desenrolando
então. Enquanto os ladrões eram amarrados à cruz, ela observava em
angustiosa suspensão. Haveria de Aquele que dera vida aos mortos,
sofrer o ser Ele próprio crucificado? Suportaria o Filho de Deus o
ser tão cruelmente morto? Deveria ela renunciar a sua fé de que
Jesus era o Messias? Deveria testemunhar-Lhe a vergonha e a dor,
sem ter sequer o consolo de servi-Lo em Sua aflição? Viu-Lhe as
mãos estendidas sobre a cruz; foram trazidos o martelo e os pregos,
e, ao serem estes cravados na tenra carne, os discípulos, fundamente
comovidos, levaram da cruel cena o corpo desfalecido da mãe de
Jesus.
O Salvador não murmurou uma queixa. O rosto permaneceu-
Lhe calmo e sereno, mas grandes gotas de suor borbulhavam-Lhe
na fronte. Nenhuma mão piedosa a enxugar-Lhe do rosto o suor da
morte, nem palavras de simpatia e inabalável fidelidade para Lhe
confortar o coração humano. Enquanto os soldados executavam a
terrível obra, Jesus orava pelos inimigos: “Pai, perdoa-lhes, porque
não sabem o que fazem”.
Lucas 23:34
. Seu pensamento passou da
dor própria ao pecado dos que O perseguiam, e à terrível retribuição
que lhes caberia. Nenhuma maldição invocou sobre os soldados
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que O estavam tratando tão rudemente. Nenhuma vingança pediu
contra os sacerdotes e príncipes que contemplavam com maligna
satisfação o cumprimento de seu desígnio. Cristo Se apiedou deles
em sua ignorância e culpa. Só exalou uma súplica por seu perdão —
“porque não sabem o que fazem”.
Soubessem eles que estavam torturando Aquele que viera salvar
da eterna ruína a raça pecadora, e ter-se-iam possuído de remorso
e horror. Sua ignorância, porém, não lhes tirava a culpa; pois era
seu privilégio conhecer e aceitar a Jesus como seu Salvador. Alguns
deles veriam ainda o seu pecado, e arrepender-se-iam e se converte-