Página 667 - O Desejado de Todas as Na

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O Calvário
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Temia que o pecado fosse tão ofensivo a Deus, que Sua separação
houvesse de ser eterna. Cristo sentiu a angústia que há de experimen-
tar o pecador quando não mais a misericórdia interceder pela raça
culpada. Foi o sentimento do pecado, trazendo a ira divina sobre
Ele, como substituto do homem, que tão amargo tornou o cálice que
sorveu, e quebrantou o coração do Filho de Deus.
Com assombro presenciara os anjos a desesperada agonia do
Salvador. As hostes do Céu velaram o rosto, do terrível espetáculo. A
inanimada natureza exprimiu sua simpatia para com seu insultado e
moribundo Autor. O Sol recusou contemplar a espantosa cena. Seus
raios plenos, brilhantes, iluminavam a Terra ao meio-dia, quando,
de súbito, pareceu apagar-se. Completa escuridão, qual um sudário,
envolveu a cruz. “Houve trevas em toda a Terra até à hora nona”.
Marcos 15:33
. Não houve eclipse ou outra qualquer causa natural
para essa escuridão, tão espessa como a da meia-noite sem luar nem
estrelas. Foi miraculoso testemunho dado por Deus, para que se
pudesse confirmar a fé das vindouras gerações.
Naquela densa treva ocultava-Se a presença de Deus. Ele faz
da treva o Seu pavilhão, e esconde Sua glória dos olhos humanos.
Deus e Seus santos anjos estavam ao pé da cruz. O Pai estava com
o Filho. Sua presença, no entanto, não foi revelada. Houvesse Sua
glória irrompido da nuvem, e todo espectador humano teria sido
morto. E naquela tremenda hora não devia Cristo ser confortado
com a presença do Pai. Pisou sozinho o lagar, e dos povos nenhum
havia com Ele.
Na espessa escuridão, velou Deus a final agonia humana de Seu
Filho. Todos quantos viram Cristo em Seu sofrimento, convenceram-
se de Sua divindade. Aquele rosto, uma vez contemplado pela hu-
manidade, não seria nunca mais esquecido. Como a fisionomia de
Caim lhe exprimia a culpa de homicida, assim o semblante de Cristo
revelava inocência, serenidade, benevolência — a imagem de Deus.
Mas Seus acusadores não queriam dar atenção ao cunho celestial.
Durante longas horas de agonia fora Cristo contemplado pela escar-
necedora multidão. Agora, ocultou-O misericordiosamente o manto
divino.
Parecia haver baixado sobre o Calvário um silêncio sepulcral.
Inominável terror apoderou-se da multidão que circundava a cruz. As
maldições e injúrias cessaram a meio das frases iniciadas. Homens,