Página 118 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
podiam refutar; portanto os escravos do formalismo e superstição
clamavam por seu sangue, como o fizeram os judeus pelo sangue de
Cristo. “Ele é um herege”, bradavam os zelosos romanos. “É alta
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traição à igreja permitir que tão horrível herege viva uma hora mais.
Arme-se imediatamente para ele a forca!” — D’Aubigné.
Lutero, porém, não caiu vítima da fúria deles. Deus tinha uma
obra para ele fazer, e a fim de o proteger foram enviados anjos do
Céu. Entretanto, muitos que de Lutero tinham recebido a preciosa
luz, tornaram-se objeto da ira de Satanás, e por amor à verdade
sofreram corajosamente tortura e morte.
Os ensinos de Lutero atraíram a atenção dos espíritos pensantes
de toda a Alemanha. De seus sermões e escritos procediam raios de
luz que despertavam e iluminavam a milhares. Uma fé viva estava
tomando o lugar do morto formalismo em que a igreja se manti-
vera durante tanto tempo. O povo estava diariamente perdendo a
confiança nas superstições do romanismo. As barreiras do precon-
ceito iam cedendo. A Palavra de Deus, pela qual Lutero provava
toda a doutrina e qualquer reclamo, era semelhante a uma espada
de dois gumes, abrindo caminho ao coração do povo. Por toda parte
se despertava o desejo de progresso espiritual. Fazia séculos que
não se via, tão generalizada, a fome e sede de justiça. Os olhos do
povo, havia tanto voltados para ritos humanos e mediadores terres-
tres, volviam-se agora em arrependimento e fé para Cristo, e Este
crucificado.
Esse interesse generalizado, mais ainda despertou os temores
das autoridades papais. Lutero recebeu intimação para comparecer a
Roma, a fim de responder pela acusação de heresia. A ordem encheu
de terror a seus amigos. Sabiam perfeitamente bem o perigo que o
ameaçava naquela corrupta cidade, já embriagada com o sangue dos
mártires de Jesus. Protestaram contra sua ida a Roma, e requereram
fosse ele interrogado na Alemanha.
Assim se fez por fim e foi designado o núncio papal para ouvir
o caso. Nas instruções comunicadas pelo pontífice a esse legado,
referiu-se que Lutero fora já declarado herege. O núncio foi, por-
tanto, encarregado, de o “processar e constranger sem demora.” Se
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ele permanecesse firme, e o legado não conseguisse apoderar-se de
sua pessoa, tinha poderes “para proscrevê-lo em todas as partes da
Alemanha; banir, amaldiçoar e excomungar todos os que estives-