Página 126 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
e supersticiosos tremiam perante o decreto do papa; e, conquanto
houvesse simpatia geral por Lutero, muitos sentiam que a vida era
por demais preciosa para que fosse arriscada na causa da Reforma.
Tudo parecia indicar que a obra do reformador estava a ponto de
terminar.
Mas Lutero ainda era destemido. Roma tinha arremessado seus
anátemas contra ele, e o mundo olhava, nada duvidando de que
perecesse ou fosse obrigado a render-se. Mas com poder terrível
ele rebateu contra ela a sentença de condenação, e publicamente
declarou sua decisão de abandoná-la para sempre. Na presença de
uma multidão de estudantes, doutores e cidadãos de todas as classes,
Lutero queimou a bula papal, com as leis canônicas, decretos e certos
escritos que sustentavam o poder papal. “Meus inimigos, queimando
meus livros, foram capazes”, disse ele, “de prejudicar a causa da
verdade no espírito do povo comum, e destruir-lhes a alma; por esse
motivo consumo seus livros, em retribuição. Uma luta séria acaba de
começar. Até aqui tenho estado apenas a brincar com o papa. Iniciei
esta obra no nome de Deus; ela se concluirá sem mim, e pelo Seu
poder.” — D’Aubigné.
Às acusações dos inimigos, que dele zombavam pela fraqueza de
sua causa, Lutero respondia: “Quem sabe se Deus não me escolheu
e chamou, e se eles não deverão temer que, ao desprezar-me, despre-
zem ao próprio Deus? Moisés esteve só, na partida do Egito; Elias
esteve só, no reino do rei Acabe; Isaías só, em Jerusalém; Ezequiel
só, em Babilônia. ... Deus nunca escolheu como profeta nem o sumo
sacerdote, nem qualquer outra grande personagem; mas comumente
escolhia homens humildes e desprezados, e uma vez mesmo o pastor
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Amós. Em todas as épocas, os santos tiveram que reprovar os gran-
des, reis, príncipes, sacerdotes e sábios, com perigo de vida. ... Não
me considero profeta; mas digo que eles devem temer precisamente
porque estou só e eles são muitos. Disto estou certo: que a Palavra
de Deus está comigo, e não com eles.” — D’Aubigné.
Entretanto, não foi sem terrível luta consigo mesmo que Lutero
se decidiu a uma separação definitiva da igreja. Foi aproximada-
mente por esse tempo que escreveu: “Sinto cada dia mais e mais
quão difícil é pôr de parte os escrúpulos que a gente absorveu na me-
ninice. Oh! quanta dor me causou, posto que eu tivesse as Escrituras
a meu lado, o justificar a mim mesmo que eu ousaria assumir atitude