Página 135 - O Grande Conflito

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O poder triunfante da verdade
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resolução já pudesse estar abalada, perguntou se ele ainda desejava
ir avante. Respondeu: “Posto que interdito em todas as cidades, irei.”
— D’Aubigné.
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Em Erfurt, Lutero foi recebido com honras. Cercado de mul-
tidões que o admiravam, passou pelas ruas que ele muitas vezes
atravessara com a sacola de pedinte. Visitou sua capela no convento
e pensou nas lutas pelas quais a luz que agora inundava a Alemanha
se derramara em sua alma. Insistiu-se com ele a que pregasse. Isto
lhe havia sido vedado, mas o arauto concedeu-lhe permissão, e o
frade que fora outrora o serviçal do convento, subiu agora ao púlpito.
A uma multidão que ali se reunira, falou ele sobre as palavras
de Cristo: “Paz seja convosco.” “Filósofos, doutores e escritores”,
disse ele, “têm-se esforçado por ensinar aos homens o meio para se
obter a vida eterna, e não o têm conseguido. Contar-vos-ei agora:
... Deus ressuscitou dos mortos um Homem, o Senhor Jesus Cristo,
para que pudesse destruir a morte, extirpar o pecado e fechar as
portas do inferno. Esta é a obra da salvação. ... Cristo venceu! estas
são as alegres novas; e somos salvos por Sua obra, e não pela nossa
própria. ... Disse nosso Senhor Jesus Cristo: ‘Paz seja convosco;
olhai Minhas mãos’; isto quer dizer: Olha, ó homem! fui Eu, Eu só,
que tirei teu pecado e te resgatei; e agora tens paz, diz o Senhor.”
Continuou, mostrando que a verdadeira fé se manifestará por
uma vida santa. “Visto que Deus nos salvou, ordenemos nossos
trabalhos de tal maneira que possam ser aceitáveis perante Ele.
És rico? administra teus bens às necessidades dos pobres. Se teu
trabalho é útil apenas para ti, o serviço que pretendes prestar a Deus
é uma mentira.” — D’Aubigné.
O povo ouvia como que extasiado. O pão da vida fora partido
àquelas almas famintas. Perante elas Cristo foi levantado acima
de papas, legados, imperadores e reis. Lutero não fez referência
alguma à sua posição perigosa. Não procurou fazer-se objeto dos
pensamentos e simpatias. Na contemplação de Cristo perdera de
vista o eu. Escondera-se por trás do Homem do Calvário, procurando
apenas apresentar a Jesus como o Redentor do pecador.
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Prosseguindo viagem, o reformador era em toda parte olhado
com grande interesse. Uma ávida multidão acotovelava-se em redor
dele, e vozes amigas advertiam-no dos propósitos dos romanistas.
“Eles vos queimarão”, diziam alguns, “e reduzirão vosso corpo a