Página 139 - O Grande Conflito

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O poder triunfante da verdade
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Semelhante calma e domínio próprio, inesperados em quem se mos-
trara audaz e intransigente, aumentaram-lhe o poder, habilitando-o
mais tarde a responder com uma prudência, decisão, sabedoria e
dignidade que surpreendiam e decepcionavam seus adversários, re-
preendendo-lhes a insolência e orgulho.
No dia seguinte deveria ele comparecer para dar sua resposta
final. Durante algum tempo seu coração se abateu, ao contemplar
as forças que estavam combinadas contra a verdade. Vacilou-lhe a
fé; temor e tremor lhe sobrevieram, e oprimiu-o o terror. Multiplica-
vam-se diante dele os perigos; seus inimigos pareciam a ponto de
triunfar, e os poderes das trevas, de prevalecer. Nuvens juntavam-se
em redor dele, e pareciam separá-lo de Deus. Ansiava pela certeza de
que o Senhor dos exércitos estaria com ele. Em angústia de espírito
lançou-se com o rosto em terra, derramando estes clamores entre-
cortados, lancinantes, que ninguém, senão Deus, pode compreender
perfeitamente:
“Ó Deus, todo-poderoso e eterno”, implorava ele, “quão terrível
é este mundo! Eis que ele abre a boca para engolir-me, e tenho tão
pouca confiança em Ti. ... Se é unicamente na força deste mundo que
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eu devo pôr minha confiança, tudo está acabado. ... É vinda a minha
última hora, minha condenação foi pronunciada. ... Ó Deus, ajuda-
me contra toda a sabedoria do mundo. Faze isto, ... Tu somente;
... pois esta não é minha obra, mas Tua. Nada tenho a fazer por
minha pessoa, e devo tratar com estes grandes do mundo. ... Mas a
causa é Tua, ... e é uma causa justa e eterna. Ó Senhor, auxilia-me!
Deus fiel e imutável, em homem algum ponho minha confiança. ...
Tudo que é do homem é incerto; tudo que do homem vem, falha.
... Escolheste-me para esta obra. ... Sê a meu lado por amor de Teu
bem-amado Jesus Cristo, que é minha defesa, meu escudo e torre
forte.” — D’Aubigné.
Uma providência onisciente havia permitido a Lutero compre-
ender o perigo, para que não confiasse em sua própria força, ar-
rojando-se presunçosamente ao perigo. Não era, contudo, o temor
do sofrimento pessoal, o terror da tortura ou da morte, que parecia
iminente, o que o oprimia com seus horrores. Ele chegara à crise, e
sentia sua insuficiência para enfrentá-la. Pela sua fraqueza, a causa
da verdade poderia sofrer dano. Não para a sua própria segurança,
mas para a vitória do evangelho lutava ele com Deus. Como a de