Página 140 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
Israel, naquela luta noturna, ao lado do solitário riacho, foi a angús-
tia e conflito de sua alma. Como Israel, prevaleceu com Deus. Em
seu completo desamparo, sua fé se firmou em Cristo, o poderoso
Libertador. Ele se fortaleceu com a certeza de que não compareceria
sozinho perante o concílio. A paz voltou à alma, e ele se regozijou
de que lhe fosse permitido exaltar a Palavra de Deus perante os
governadores da nação.
Com o espírito repousado em Deus, Lutero preparou-se para a
luta que diante dele estava. Meditou sobre o plano de sua resposta,
examinou passagens de seus próprios escritos e tirou das Sagradas
Escrituras provas convenientes para sustentar sua atitude. Então,
pondo a mão esquerda sobre o Volume Sagrado, que estava aberto
diante dele, levantou a destra para o céu, e fez um voto de “perma-
necer fiel ao evangelho e confessar francamente sua fé, mesmo que
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tivesse de selar com o sangue seu testemunho.” — D’Aubigné.
Ao ser de novo introduzido à presença da Dieta, seu rosto não
apresentava traços de receio ou embaraço. Calmo e cheio de paz,
ainda que extraordinariamente valoroso e nobre, manteve-se como
testemunha de Deus entre os grandes da Terra. O oficial imperial
pediu então sua decisão sobre se desejava retratar-se de suas doutri-
nas. Lutero respondeu em tom submisso e humilde, sem violência
nem paixão. Suas maneiras eram tímidas e respeitosas; manifestou,
contudo, confiança e alegria que surpreenderam a assembléia.
“Sereníssimo imperador, ilustres príncipes, graciosos fidalgos”,
disse Lutero; “compareço neste dia perante vós, em conformidade
com a ordem a mim dada ontem, e pela mercê de Deus conjuro vossa
majestade e vossa augusta alteza a escutar, com graça, a defesa de
uma causa que, estou certo, é justa e verdadeira. Se, por ignorância,
eu transgredir os usos e etiquetas das cortes, rogo-vos perdoar-me;
pois não fui criado nos palácios dos reis, mas na reclusão de um
convento.” — D’Aubigné.
Então, referindo-se à pergunta, declarou que suas obras publi-
cadas não eram todas do mesmo caráter. Em algumas havia tratado
da fé e das boas obras, e mesmo seus inimigos as declaravam não
somente inofensivas, mas proveitosas. Abjurá-las seria condenar ver-
dades que todos os partidos professavam. A segunda classe consistia
em escritos que expunham as corrupções e abusos do papado. Re-
vogar estas obras fortaleceria a tirania de Roma, abrindo uma porta