Página 141 - O Grande Conflito

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O poder triunfante da verdade
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mais larga a muitas e grandes impiedades. Na terceira classe de seus
livros atacara indivíduos que haviam defendido erros existentes. Em
relação a eles confessou, francamente, que tinha sido mais violento
do que convinha. Não pretendia estar isento de falta; mas mesmo
esses livros não poderia revogar, pois que tal procedimento tornaria
audaciosos os inimigos da verdade, e então aproveitariam a ocasião
para esmagar o povo de Deus com crueldade ainda maior.
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“Não sou, todavia, senão mero homem, e não Deus”, continuou
ele; “portanto, defender-me-ei como fez Cristo: ‘Se falei mal, dá
testemunho do mal.’ ... Pela misericórdia de Deus, conjuro-vos,
sereníssimo imperador, e a vós, ilustríssimos príncipes, e a todos
os homens de toda categoria, a provar pelos escritos dos profetas e
apóstolos, que errei. Logo que estiver convicto disso, retratarei todo
erro e serei o primeiro a lançar mão de meus livros e atirá-los ao
fogo.
“O que acabo de dizer, claramente mostra, eu o espero, que pesei
e considerei cuidadosamente os perigos a que me exponho mas,
longe de me desanimar, regozijo-me por ver que o evangelho é hoje,
como nos tempos antigos, causa de perturbação e dissensão. Este
é o caráter, este é o destino da Palavra de Deus. ‘Não vim trazer
paz à Terra, mas espada’, disse Jesus Cristo. Deus é maravilhoso
e terrível em Seus conselhos; acautelai-vos para que não aconteça
que, supondo apagar dissensões, persigais a santa Palavra de Deus
e arrosteis sobre vós mesmos um pavoroso dilúvio de perigos insu-
peráveis, de desastres presentes e desolação eterna. ... Poderia citar
muitos exemplos dos oráculos de Deus. Poderia falar dos Faraós,
dos reis de Babilônia e dos de Israel, cujos trabalhos não contribuí-
ram nunca mais eficazmente para a sua própria destruição do que
quando buscavam, mediante conselhos, prudentíssimos na aparência,
fortalecer seu domínio. Deus ‘é O que transporta montanhas, sem
que o sintam.’” — D’Aubigné.
Lutero falara em alemão; foi-lhe pedido então repetir as mesmas
palavras em latim. Embora exausto pelo esforço anterior, anuiu e
novamente fez seu discurso, com a mesma clareza e energia que a
princípio. A providência de Deus dirigiu isto. O espírito de muitos
dos príncipes estava tão obliterado pelo erro e superstição que à
primeira vez não viram a força do raciocínio de Lutero; mas a
repetição habilitou-os a perceber claramente os pontos apresentados.
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