Página 142 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
Os que obstinadamente fechavam os olhos à luz e se decidiram a
não convencer-se da verdade, ficaram enraivecidos com o poder das
palavras de Lutero. Quando cessou de falar, o anunciador da Dieta
disse, irado: “Não respondeste à pergunta feita. ... Exige-se que dês
resposta clara e precisa. ... Retratar-te-ás ou não?”
O reformador respondeu: “Visto que vossa sereníssima majes-
tade e vossas nobres altezas exigem de mim resposta clara, simples
e precisa, dar-vo-la-ei, e é esta: Não posso submeter minha fé quer
ao papa quer aos concílios, porque é claro como o dia, que eles
têm freqüentemente errado e se contradito um ao outro. Portanto,
a menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras
ou pelo mais claro raciocínio; a menos que eu seja persuadido por
meio das passagens que citei; a menos que assim submetam minha
consciência pela Palavra de Deus, não posso retratar-me e não me re-
tratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui
permaneço, não posso fazer outra coisa; Deus queira ajudar-me.
Amém.” — D’Aubigné.
Assim se manteve este homem justo sobre o firme fundamento
da Palavra de Deus. A luz do Céu iluminava-lhe o semblante. Sua
grandeza e pureza de caráter, sua paz e alegria de coração, eram ma-
nifestas a todos ao testificar ele contra o poder do erro e testemunhar
a superioridade da fé que vence o mundo.
A assembléia toda ficou por algum tempo muda de espanto. Em
sua primeira resposta Lutero falara em tom baixo, em atitude respei-
tosa, quase submissa. Os romanistas haviam interpretado isto como
sinal de que lhe estivesse começando a faltar o ânimo. Consideraram
o pedido de delonga simples prelúdio de sua retratação. O próprio
Carlos, notando, meio desdenhoso, a constituição abatida do monge;
seu traje singelo e a simplicidade de suas maneiras, declarara: “Este
monge nunca fará de mim um herege.” A coragem e firmeza que
agora ele ostentara, bem como o poder e clareza de seu raciocínio,
encheram de surpresa todos os partidos. O imperador, possuído de
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admiração, exclamou: “Este monge fala com coração intrépido e
inabalável coragem.” Muitos dos príncipes alemães olhavam com
orgulho e alegria a este representante de sua nação.
Os partidários de Roma haviam sido vencidos; sua causa pare-
cia sob a mais desfavorável luz. Procuraram manter seu poder, não
apelando para as Escrituras, mas com recurso às ameaças — inde-