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O Grande Conflito
domínio próprio do doutor, e decidiu-se a permanecer mais firme-
mente em sua defesa. Ele contrastava as facções em contenda, e
via que a sabedoria dos papas, reis e prelados, fora pelo poder da
verdade reduzida a nada. O papado sofrera uma derrota que seria
sentida entre todas as nações e em todos os tempos.
Quando o legado percebeu o efeito produzido pelo discurso
de Lutero, como nunca dantes temeu pela segurança do poderio
romano e resolveu empregar todos os meios a seu alcance, para levar
a termo a derrota do reformador. Com toda a eloqüência e perícia
diplomática, pelas quais tanto se distinguia, apresentou ao jovem
imperador a loucura e perigo de sacrificar, pela causa de um monge
desprezível, a amizade e apoio da poderosa Sé de Roma.
Suas palavras não foram destituídas de efeito. No dia que se
seguiu à resposta de Lutero, Carlos fez com que fosse apresentada
uma mensagem à Dieta, anunciando sua resolução de prosseguir
com a política de seus predecessores, mantendo e protegendo a
religião católica. Visto que Lutero se recusara a renunciar a seus
erros, seriam empregadas as mais rigorosas medidas contra ele e
contra as heresias que ensinava. “Um simples monge, transviado
por sua própria loucura, levantou-se contra a fé da cristandade. Para
deter tal impiedade, sacrificarei meus reinos, meus tesouros, meus
amigos, meu corpo, meu sangue, minha alma e minha vida. Estou
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para despedir o agostiniano Lutero, proibindo-lhe causar a menor
desordem entre o povo; procederei então contra ele e seus adeptos
como hereges contumazes, pela excomunhão, pelo interdito e por
todos os meios calculados para destruí-los. Apelo para os membros
dos Estados a que se portem como fiéis cristãos.” — D’Aubigné.
Não obstante, o imperador declarou que o salvo conduto de Lutero
deveria ser respeitado, e que, antes de se poder instituir qualquer
processo contra ele, deveria ser-lhe permitido chegar a casa em
segurança.
Insistiam agora os membros da Dieta em duas opiniões contrá-
rias. Os emissários e representantes do papa, de novo pediam que o
salvo-conduto do reformador fosse desrespeitado. “O Reno”, diziam
eles, “deveria receber suas cinzas, como recebeu as de João Huss,
há um século.” — D’Aubigné. Príncipes alemães, porém, conquanto
fossem eles próprios romanistas e inimigos declarados de Lutero,
protestavam contra tal brecha da pública fé, como uma nódoa sobre