Página 146 - O Grande Conflito

Basic HTML Version

142
O Grande Conflito
resplandecer a luz da Palavra de Deus, Seu Espírito contendeu pela
última vez com muitos naquela assembléia. Como Pilatos, séculos
antes, permitira que o orgulho e a popularidade fechassem seu cora-
ção contra o Redentor do mundo; como o timorato Félix ordenou ao
mensageiro da verdade: “Por agora vai-te, e em tendo oportunidade
te chamarei”; como o orgulhoso Agripa confessou: “Por pouco me
queres persuadir a que me faça cristão!” (
Atos 24:25
;
26:28
) e no
entanto se desviou da mensagem enviada pelo Céu — assim Carlos
V, cedendo às sugestões do orgulho e política mundanos, decidiu-se
a rejeitar a luz da verdade.
Circularam amplamente rumores dos planos feitos contra Lu-
tero, causando por toda a cidade grande excitação. O reformador
[165]
conquistara muitos amigos que, conhecendo a traiçoeira crueldade
de Roma para com todos os que ousavam expor suas corrupções,
resolveram que ele não fosse sacrificado. Centenas de nobres se
comprometeram a protegê-lo. Não poucos denunciaram abertamente
a mensagem real como evidência de tímida submissão ao poder de
Roma. Às portas das casas e em lugares públicos, foram afixados
cartazes, alguns condenando e outros apoiando Lutero. Num deles
estavam meramente escritas as significativas palavras do sábio: “Ai
de ti, ó terra, cujo rei é criança!”
Eclesiastes 10:16
. O entusiasmo
popular em favor de Lutero, por toda a Alemanha, convenceu tanto
o imperador como a Dieta de que qualquer injustiça a ele manifesta
faria perigar a paz do império e mesmo a estabilidade do trono.
Frederico da Saxônia manteve uma estudada reserva, escon-
dendo cuidadosamente seus verdadeiros sentimentos, para com o
reformador, ao passo que o guardava com incansável vigilância,
observando todos os seus movimentos e todos os de seus inimigos.
Mas, muitos havia que não faziam tentativa para ocultar sua simpatia
por Lutero. Ele era visitado por príncipes, condes, barões e outras
pessoas de distinção, tanto leigas como eclesiásticas. “A salinha do
doutor”, escreveu Spalatin, “não podia conter todos os visitantes que
se apresentavam.” — Martyn. O povo contemplava-o como se fosse
mais que humano. Mesmo os que não tinham fé em suas doutrinas,
não podiam deixar de admirar aquela altiva integridade que o levou
a afrontar a morte de preferência a violar a consciência.
Fizeram-se ardentes esforços a fim de obter o consentimento
de Lutero para uma transigência com Roma. Nobres e príncipes