Página 164 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
para fazer tudo que estivesse em seu poder, a fim de que não fosse
impedida a obra tão nobremente iniciada.
Mas Satanás não estava ocioso. Passou a tentar o que havia ex-
perimentado em todos os outros movimentos de reforma — enganar
e destruir o povo apresentando-lhe uma contrafação em lugar da
verdadeira obra. Assim como houve falsos cristos no primeiro século
da igreja cristã, surgiram também falsos profetas no século XVI.
Alguns homens, profundamente impressionados com a agitação
que ia pelo mundo religioso, imaginavam haver recebido revelações
especiais do Céu, e pretendiam ter sido divinamente incumbidos de
levar avante, até à finalização, a Reforma que, declaravam, apenas
fora iniciada debilmente por Lutero. Na verdade, estavam desfazendo
o mesmo trabalho que ele realizara. Rejeitavam o grande princípio
que era o próprio fundamento da Reforma — que a Palavra de Deus
é a todo-suficiente regra de fé e prática; e substituíram aquele guia
infalível pela norma mutável, incerta, de seus próprios sentimentos e
impressões. Por este ato de pôr de lado o grande indicador do erro e
falsidade, fora aberto o caminho para Satanás governar os espíritos
como melhor lhe aprouvesse.
Um desses profetas pretendia haver sido instruído pelo anjo
Gabriel. Um estudante que se lhe unira, abandonara seus estudos
declarando que fora pelo próprio Deus dotado de sabedoria para
expor Sua Palavra. Outros que naturalmente eram propensos ao
fanatismo, a eles se uniram. A ação destes entusiastas criou não
pequeno excitamento. A pregação de Lutero tinha levado o povo
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em toda parte a sentir a necessidade de reforma, e agora algumas
pessoas realmente sinceras foram transviadas pelas pretensões dos
novos profetas.
Os dirigentes do movimento seguiram para Wittenberg e insta-
ram com Melâncton e seus cooperadores para que aceitassem suas
pretensões. Disseram: “Nós somos enviados por Deus para instruir
ao povo. Temos familiarmente entretido conversas com o Senhor;
sabemos o que acontecerá; em uma palavra, somos apóstolos e
profetas, e apelamos para o Dr. Lutero.” — D’Aubigné.
Os reformadores estavam surpresos e perplexos. Com seme-
lhante elemento não haviam ainda deparado, e não sabiam o que
fazer. Disse Melâncton: “Há efetivamente espírito extraordinário
nestes homens; mas que espírito? ... De um lado acautelemo-nos de