A Europa desperta
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entristecer o Espírito de Deus, e de outro, de sermos desgarrados
pelo espírito de Satanás.” — D’Aubigné.
O fruto do novo ensino logo se tornou manifesto. O povo foi
levado a negligenciar a Bíblia, ou lançá-la inteiramente à parte.
Nas escolas estabeleceu-se confusão. Estudantes, repelindo toda
restrição, abandonavam seus estudos e retiravam-se da universidade.
Os homens que se julgavam competentes para reanimar e dirigir
a obra da Reforma, conseguiram unicamente levá-la às bordas da
ruína. Os representantes de Roma recuperaram então sua confiança,
e exclamaram exultantemente: “Mais uma luta, e tudo será nosso.”
— D’Aubigné.
Lutero, em Wartburgo, ouvindo o que ocorrera, disse com pro-
fundo pesar: “Sempre esperei que Satanás nos mandaria esta praga.”
— D’Aubigné. Percebeu o verdadeiro caráter desses pretensos profe-
tas, e viu o perigo que ameaçava a causa da verdade. A oposição do
papa e do imperador não lhe tinha causado perplexidade e angústia
tão grandes como as que experimentava agora. Dos professos ami-
gos da Reforma haviam surgido seus piores inimigos. As mesmas
verdades que lhe haviam trazido tão grande alegria e consolação,
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estavam sendo empregadas para provocar contenda e criar confusão
na igreja.
Na obra da Reforma, Lutero fora compelido à frente pelo Es-
pírito de Deus, e levado além do que ele pessoalmente teria ido.
Não se propusera assumir as posições que assumiu, nem efetuar
mudanças tão radicais. Não fora senão o instrumento nas mãos do
Poder infinito. Contudo, muitas vezes estremecia pelos resultados de
seu trabalho. Dissera uma vez: “Se eu soubesse que minha doutrina
tivesse prejudicado a um homem, um único homem, por humilde
e obscuro que fosse — o que não pode ser, pois que é o próprio
evangelho — eu preferiria morrer dez vezes a não retratar-me.” —
D’Aubigné.
E então, Wittenberg mesmo, o próprio centro da Reforma, estava
rapidamente a cair sob o poder do fanatismo e da anarquia. Esta
terrível condição não resultara dos ensinos de Lutero; mas por toda
a Alemanha seus inimigos o estavam acusando disso. Em amargura
d’alma ele algumas vezes perguntou: “Poderá, então, ser esse o fim
desta grande obra da Reforma?” — D’Aubigné. De novo, lutando
com Deus em oração, encheu-se-lhe de paz a alma. “A obra não é