Página 166 - O Grande Conflito

Basic HTML Version

162
O Grande Conflito
minha, mas Tua”, disse ele; “não permitirás que ela se corrompa
pela superstição ou fanatismo.” Mas o pensamento de permanecer
por mais tempo afastado do conflito, numa crise tal, tornou-se-lhe
insuportável. Resolveu voltar a Wittenberg.
Sem demora iniciou a perigosa viagem. Achava-se sob a conde-
nação do império. Os inimigos tinham a liberdade de tirar-lhe a vida;
aos amigos era vedado auxiliá-lo ou abrigá-lo. O governo imperial
estava adotando as mais enérgicas medidas contra seus adeptos. Ele,
porém, via que a obra do evangelho estava perigando, e em nome do
Senhor saiu destemidamente para batalhar pela verdade.
Em carta ao eleitor, depois de declarar seu propósito de deixar
Wartburgo, Lutero disse: “Seja Vossa Alteza cientificado de que
vou a Wittenberg sob uma proteção muito mais elevada do que a de
príncipes e eleitores. Não penso em solicitar o apoio de Vossa Alteza,
e longe de desejar sua proteção, eu mesmo, antes, o protegerei. Se
[189]
eu soubesse que Vossa Alteza poderia ou quereria proteger-me, não
iria de maneira nenhuma a Wittenberg. Não há espada que possa
favorecer esta causa. Deus somente deve fazer tudo sem o auxílio ou
cooperação do homem. Aquele que tem a maior fé, é o que é mais
capaz de proteger.” — D’Aubigné.
Em segunda carta, escrita em caminho para Wittenberg, Lutero
acrescentou: “Estou pronto para incorrer no desagrado de Vossa Al-
teza e na ira do mundo inteiro. Não são os habitantes de Wittenberg
minhas ovelhas? Não as confiou Deus a mim? E não deveria eu,
sendo necessário, expor-me à morte por sua causa? Demais, temo
ver um terrível levante na Alemanha, pelo qual Deus punirá nossa
nação.” — D’Aubigné.
Com grande cautela e humildade, se bem que com decisão e
firmeza, entrou em seu trabalho. “Pela Palavra”, disse ele, “devemos
vencer e destruir o que foi estabelecido pela violência. Não farei uso
da força contra os supersticiosos e incrédulos. ... Ninguém deve ser
constrangido. A liberdade é a própria essência da fé.” — D’Aubigné.
Logo rumorejou em toda Wittenberg que Lutero voltara, e que
deveria pregar. O povo congregou-se de todas as direções, e a igreja
transbordou. Subindo ao púlpito, com grande sabedoria e mansidão,
instruiu, exortou e reprovou. Abordando o procedimento de alguns
que haviam recorrido a medidas violentas para abolir a missa, disse: