A Europa desperta
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“A missa é coisa má; Deus Se opõe a ela; deve ser abolida; e
eu gostaria que no mundo inteiro fosse substituída pela Ceia do
evangelho. Mas que ninguém seja dela arrancado pela força. De-
vemos deixar o caso nas mãos de Deus. Sua Palavra deve agir, e
não nós. E por que assim? perguntareis. Porque eu não retenho o
coração dos homens em minhas mãos, como o oleiro retém o barro.
Temos o direito de falar: não temos o direito de agir. Preguemos; o
resto pertence a Deus. Devesse eu empregar a força e que ganharia?
Momice, formalidade, arremedos, ordenanças humanas e hipocrisia.
... Mas não haveria sinceridade de coração, nem fé, nem caridade.
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Onde faltam estas três, falta tudo, e eu nada daria por semelhante
resultado. ... Deus faz mais por Sua Palavra só, do que vós e eu e o
mundo inteiro por nossa força unida. Deus Se apodera do coração, e
tomando o coração, tudo está ganho. ...
“Pregarei, discutirei, escreverei; mas não constrangerei a nin-
guém, pois a fé é ato voluntário. Vede o que fiz. Levantei-me contra
o papa, seus partidários e as indulgências, mas sem violência nem
tumulto. Apresentei a Palavra de Deus; preguei e escrevi — isto é
tudo que fiz. E, no entanto, enquanto eu dormia, ... a Palavra que eu
pregara subverteu o papado, de maneira tal que nunca um príncipe
ou imperador lhe vibrou semelhante golpe. E, contudo, nada fiz; a
Palavra só, fez tudo. Se eu houvesse querido apelar para a força, a
Alemanha inteira teria sido talvez inundada de sangue. Mas qual
seria o resultado? Ruína e desolação tanto para o corpo como para
a alma. Portanto, conservei-me quieto e deixei a Palavra sozinha
correr através do mundo.” — D’Aubigné.
Dia após dia, durante uma semana inteira, Lutero continuou a
pregar a ávidas multidões. A Palavra de Deus quebrou o encanto
da excitação fanática. O poder do evangelho trouxe de novo para o
caminho da verdade o povo transviado.
Lutero não tinha desejo de encontrar-se com os fanáticos, cujo
proceder fora a causa de tão grande mal. Sabia que eram homens
de juízo deficiente e de indisciplinadas paixões, os quais conquanto
pretendessem ser especialmente iluminados pelo Céu, não suporta-
riam a mínima contradição, ou mesmo a mais benévola reprovação
ou conselho. Arrogando-se autoridade suprema, exigiam que cada
um, sem qualquer questão, reconhecesse o que pretendiam. Mas, ao
pedirem uma entrevista com ele, concedeu-lha; e com tanto êxito