Página 169 - O Grande Conflito

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A Europa desperta
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autoridade civil. Os ensinos revolucionários de Münzer, pretendendo
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sanção divina, levaram-nos a romper com todo domínio e dar rédeas
a seus preconceitos e paixões. Seguiram-se as mais terríveis cenas
de sedição e contenda, e os campos da Alemanha embeberam-se de
sangue.
A agonia d’alma que, havia tanto tempo antes, Lutero experi-
mentara em Erfurt, oprimia-o agora com redobrada força, vendo
ele os resultados do fanatismo imputados à Reforma. Os príncipes
romanistas declaravam — e muitos estavam prontos a dar crédito à
declaração — que a rebelião era o fruto legítimo das doutrinas de
Lutero. Conquanto esta acusação não tivesse o mínimo fundamento,
não poderia senão causar grande angústia ao reformador. Que a
causa da verdade fosse assim infelicitada, sendo emparelhada com
o mais ignóbil fanatismo, parecia mais do que ele poderia suportar.
Por outro lado, os chefes da revolta odiavam a Lutero porque ele
não somente se opusera a suas doutrinas e negara ser de inspiração
divina o que pretendiam, mas declarara-os rebeldes à autoridade
civil. Em represália, denunciaram-no como vil pretensioso. Parecia
haver acarretado sobre si a inimizade tanto de príncipes como do
povo.
Os romanistas exultavam, esperando testemunhar a rápida queda
da Reforma; e culpavam a Lutero até dos erros que ele tão zelo-
samente se esforçara por corrigir. A facção fanática, pretendendo
falsamente haver sido tratada com grande injustiça, conseguiu ga-
nhar as simpatias de um grupo numeroso de pessoas e, conforme se
dá freqüentemente com os que tomam o lado do erro, vieram a ser
considerados mártires. Assim, aqueles que estavam exercendo toda
energia em oposição à Reforma, eram lamentados e louvados como
vítimas de crueldade e opressão. Esta era obra de Satanás, movido
pelo mesmo espírito de rebelião que manifestara primeiramente no
Céu.
Satanás está constantemente procurando enganar os homens
e levá-los a chamar ao pecado justiça, e à justiça pecado. Quão
bem-sucedido tem sido seu trabalho! Quantas vezes a censura e
a exprobração são lançadas sobre os fiéis servos de Deus porque
se mantêm destemidos em defesa da verdade! Os homens que não
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passam de agentes de Satanás, são louvados e lisonjeados, e mesmo
considerados mártires, enquanto os que deveriam ser respeitados e