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O Grande Conflito
Ora, compreendendo que jamais poderia tornar-se padre, volveu
por algum tempo ao estudo das leis, mas abandonou finalmente
este propósito e resolveu dedicar a vida ao evangelho. Hesitou,
porém, em se fazer pregador público. Era naturalmente tímido, é
pesava-lhe a intuição das graves responsabilidades daquele cargo,
desejando ainda dedicar-se ao estudo. Os ardorosos rogos de seus
amigos, entretanto, alcançaram finalmente o seu consentimento. “É
maravilhoso”, disse ele, “que pessoa de tão humilde origem fosse
exaltada a tão grande dignidade.” — Wylie.
Calmamente deu Calvino início à sua obra, e suas palavras foram
como o orvalho que caía para refrigerar a terra. Deixara Paris, e
então se encontrava numa cidade provinciana sob a proteção da
princesa Margarida, que, amando o evangelho, estendia seu amparo
aos discípulos do mesmo. Calvino era ainda jovem, de porte gentil
e despretensioso. Começou o trabalho nos lares do povo. Rodeado
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dos membros da família, lia a Escritura e desvendava as verdades
da salvação. Os que ouviam a mensagem, levavam as boas novas
a outros, e logo o ensinador passou para além da cidade, às vilas e
aldeias adjacentes. Encontrava ingresso tanto no castelo como na
cabana e ia avante, lançando o fundamento de igrejas que deveriam
dar corajoso testemunho da verdade.
Decorridos alguns meses, achou-se de novo em Paris. Havia
desusada agitação nas rodas dos homens ilustrados e eruditos. O
estudo das línguas antigas conduzira os homens à Bíblia, e muitos,
cujo coração não fora tocado pelas suas verdades, discutiam-nas
avidamente, dando mesmo combate aos campeões do romanismo.
Calvino, se bem que fosse hábil lutador nos campos da controvérsia
religiosa, tinha a cumprir uma missão mais elevada do que a daqueles
teólogos ruidosos. O espírito dos homens estava agitado, e esse era
o tempo para lhes desvendar a verdade. Enquanto os salões da
Universidade ecoavam do rumor das discussões teológicas, Calvino
prosseguia de casa em casa, abrindo a Escritura ao povo, falando-lhes
de Cristo, o Crucificado.
Na providência de Deus, Paris deveria receber outro convite para
aceitar o evangelho. Rejeitara o apelo de Lefèvre e Farel, mas de
novo a mensagem deveria ser ouvida por todas as classes naquela
grande capital. O rei, influenciado por considerações políticas, não
tinha ainda tomado completamente sua atitude ao lado de Roma