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O Grande Conflito
reformador a descer por uma janela; e rapidamente saiu para os
extremos da cidade. Encontrando abrigo na cabana de um trabalha-
dor amigo da Reforma, disfarçou-se nos trajes de seu hospedeiro e,
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levando ao ombro uma enxada, partiu em sua jornada. Viajando para
o sul, encontrou novamente refúgio nos domínios de Margarida. —
História da Reforma no Tempo de Calvino. — Ver D’Aubigné.
Ali, por alguns meses, permaneceu em segurança sob a proteção
de poderosos amigos, e como dantes, empenhado no estudo. Mas
seu coração estava determinado a fazer a evangelização da França, e
ele não poderia ficar por muito tempo inativo. Logo que a tempes-
tade amainou um pouco, procurou um novo campo de trabalho em
Poitiers, onde havia uma universidade, e onde já as novas opiniões
alcançavam aceitação. Pessoas de todas as classes ouviam alegre-
mente o evangelho. Não havia pregação pública, mas na casa do
magistrado principal, em seus próprios cômodos, e algumas vezes
num jardim público, Calvino desvendava as palavras de vida eterna
aos que as desejavam ouvir. Depois de algum tempo, aumentando o
número dos ouvintes, foi considerado mais seguro reunirem-se fora
da cidade. Uma caverna ao lado de uma garganta profunda e estreita,
onde árvores e pedras salientes tornavam a reclusão ainda mais
completa, fora escolhida como o local para as reuniões. Pequenos
grupos, que deixavam a cidade por estradas diferentes, dirigiam-
se para ali. Neste ponto isolado, a Escritura era lida e explicada.
Ali, pela primeira vez, foi pelos protestantes da França celebrada a
Ceia do Senhor. Dessa pequena igreja foram enviados vários fiéis
evangelistas.
Mais uma vez Calvino voltou a Paris. Mesmo então não podia
abandonar a esperança de que a França, como nação, aceitasse a
Reforma. Encontrou, porém, fechadas para o trabalho quase todas
as portas. Ensinar o evangelho era tomar o caminho direto para a fo-
gueira, e finalmente resolveu partir para a Alemanha. Apenas deixara
a França, quando irrompeu sobre os protestantes uma tempestade
que certamente o teria envolvido na ruína geral, caso houvesse ele
permanecido.
Os reformadores franceses, ansiosos por ver seu país acompanhar
a Alemanha e a Suíça, decidiram-se a desferir contra a superstição
de Roma um golpe audaz, que despertaria a nação inteira. De con-
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formidade com isto, em uma noite foram afixados, por toda a França,