Página 199 - O Grande Conflito

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Os nobres da França
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cartazes que atacavam a missa. Em vez de promover a Reforma,
este movimento zeloso, mas mal-interpretado, acarretou ruína, não
somente para seus propagadores, mas também para os amigos da fé
reformada na França inteira. Deu aos romanistas o que havia muito
desejavam — um pretexto para pedirem a destruição completa dos
hereges como agitadores perigosos à estabilidade do trono e da paz
da nação.
Por alguma mão secreta — se a de um amigo imprudente, ou a
de um ardiloso adversário, nunca se soube — um dos cartazes foi
colocado à porta do quarto particular do rei. O monarca encheu-se
de horror. Naquele papel eram atacadas sem reservas superstições
que haviam recebido a veneração dos séculos. E a audácia, sem
precedentes, de introduzir à presença real estas afirmações claras e
surpreendentes, suscitou a ira do rei. Em espanto ficou ele por um
pouco de tempo a tremer e com a voz embargada. Então sua raiva
encontrou expressão nestas terríveis palavras: “Sejam sem distinção
agarrados todos os que são suspeitos de luteranismo. Exterminá-
los-ei a todos.” Estava lançada a sorte. O rei se decidira a pôr-se
completamente do lado de Roma.
De pronto foram tomadas medidas para a prisão de todos os
luteranos em Paris. Um pobre artífice, adepto da fé reformada, que
se havia acostumado a convocar os crentes para as suas assembléias
secretas, foi agarrado e, sob a ameaça de morte instantânea na fo-
gueira, ordenou-se-lhe conduzir o emissário papal à casa de todos os
protestantes na cidade. Ele estremeceu de horror ante a vil proposta,
mas finalmente o medo das chamas prevaleceu, e concordou em
se fazer traidor dos irmãos. Precedido da hóstia, e rodeado de um
séquito de padres, incensadores, monges e soldados, Morin, agente
policial do rei, com o traidor, vagarosa e silenciosamente passaram
pelas ruas da cidade. Aquela demonstração era ostensivamente em
honra ao “santo sacramento”, um ato de expiação pelo insulto feito
pelos protestantes à missa. Mas, por sob aquele espetáculo escondia-
se um propósito mortal. Chegado defronte da casa de um luterano, o
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traidor fazia um sinal, mas nenhuma palavra era proferida. O cortejo
fazia alto, entravam na casa, a família era arrastada e acorrentada,
e o terrível séquito prosseguia em procura de novas vítimas. “Não
poupavam casa, grande ou pequena, nem mesmo os colégios da
Universidade de Paris. ... Morin fez abalar toda a cidade. ... Era o