Página 202 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
suas vestes de púrpura e escarlate, e com adornos de jóias — uma
exibição magnífica e resplandecente.
“A hóstia era levada pelo bispo de Paris, sob magnificente pálio,
... carregado por quatro príncipes de sangue. ... Em seguida à hóstia
caminhava o rei. ... Francisco I, naquele dia, não levava coroa, nem
vestes de Estado.” Com a “cabeça descoberta, olhos fixos no chão,
na mão um círio aceso”, o rei da França aparecia “em caráter de
penitente.” — Wylie. Em cada altar ele se curvava em humilhação,
não pelos vícios que lhe aviltavam a alma, nem pelo sangue inocente
que lhe manchava as mãos, mas pelo pecado mortal de seus súditos
que tinham ousado condenar a missa. Seguindo-se a ele vinham a
rainha e os dignitários do Estado caminhando também dois a dois,
cada um com uma tocha acesa.
Como parte das cerimônias do dia, o próprio monarca discursou
aos altos oficiais do reino no grande salão do palácio do bispo. Com
semblante triste apareceu perante eles, e com palavras de eloqüência
comovedora deplorou “o crime, a blasfêmia o tempo de tristeza e
desgraça”, que sobrevieram à nação. E apelou para todo súdito leal
a que auxiliasse na extirpação da pestilente heresia que ameaçava
de ruína a França. “Tão verdadeiramente, senhores, como eu sou o
vosso rei”, disse ele, “se eu soubesse estar um dos meus próprios
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membros manchado ou infectado com esta detestável podridão, eu
o daria para que vós o cortásseis. ... E, demais, se visse um de
meus filhos contaminado por ela, não o pouparia. ... Eu mesmo
o entregaria e sacrificaria a Deus.” As lágrimas abafaram-lhe as
palavras, e toda a assembléia chorou, exclamando em uníssono:
“Viveremos e morreremos pela religião católica!” — D’Aubigné.
Terríveis se tornaram as trevas da nação que rejeitara a luz da
verdade. “A graça que traz a salvação” havia aparecido; mas a
França, depois de lhe contemplar o poder e santidade, depois de
milhares terem sido atraídos por sua divina beleza, depois de cidades
e aldeias terem sido iluminadas por seu fulgor, desviou-se, preferindo
as trevas à luz. Haviam repudiado o dom celestial, quando este lhes
foi oferecido. Tinham chamado ao mal bem, e ao bem mal, até
serem vítimas voluntárias do próprio engano. Agora, ainda que
efetivamente cressem que, perseguindo ao povo de Deus estavam
fazendo a obra divina, sua sinceridade não os inocentava. A luz