Página 208 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
justificam os meios. Por este código, a mentira, o roubo, o perjúrio,
o assassínio, não somente eram perdoáveis, mas recomendáveis,
quando serviam aos interesses da igreja. Sob vários disfarces, os
jesuítas abriam caminho aos cargos do governo, subindo até con-
selheiros dos reis e moldando a política das nações. Tornavam-se
servos para agirem como espias de seus senhores. Estabeleciam
colégios para os filhos dos príncipes e nobres, e escolas para o povo
comum; e os filhos de pais protestantes eram impelidos à observân-
cia dos ritos papais. Toda a pompa e ostentação exterior do culto
romano eram levadas a efeito a fim de confundir a mente e deslum-
brar e cativar a imaginação; e assim, a liberdade pela qual os pais
tinham labutado e derramado seu sangue, era traída pelos filhos. Os
jesuítas rapidamente se espalharam pela Europa e, aonde quer que
iam, eram seguidos de uma revivificação do papado.
Para lhes dar maior poder foi promulgada uma bula restabele-
cendo a inquisição. Apesar da aversão geral com que era conside-
rado, mesmo nos países católicos, este horrível tribunal foi nova-
mente estabelecido pelos chefes papais, e atrocidades demasiado
terríveis para suportar a luz do dia, foram repetidas em suas mas-
morras secretas. Em muitos países, milhares e milhares da própria
flor da nação, dos mais puros e nobres, dos mais intelectuais e alta-
mente educados, piedosos e devotados pastores, cidadãos operosos
e patrióticos, brilhantes sábios, artistas talentosos, hábeis artífices,
foram mortos ou obrigados a fugir para outros países.
Tais foram os meios que Roma invocara a fim de apagar a luz da
Reforma, para retirar dos homens a Bíblia e restabelecer a ignorância
e a superstição da Idade Média. Mas sob a bênção de Deus e os
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trabalhos daqueles nobres homens que Ele suscitara a fim de suceder
a Lutero, o protestantismo não foi esfacelado. Não lhes seria preciso
dever a sua força ao favor ou às armas dos príncipes. Os menores
países, as mais humildes e menos poderosas nações, tornaram-se
o seu baluarte. Foi a pequena Genebra em meio de poderosos ad-
versários a tramarem sua destruição; foi a Holanda em suas praias
arenosas junto ao mar do Norte, combatendo contra a tirania da
Espanha, então o maior e mais opulento dos reinos; foi a gelada e
estéril Suécia, que ganharam vitórias em prol da Reforma.
Durante quase trinta anos, Calvino trabalhou em Genebra, pri-
meiramente para estabelecer ali uma igreja que aderisse à moralidade